06/01/2020

capitães e marujos

subindo em barcas
com sons de naufrágio
não adianta ser ágil
se não souber onde pisar

(não quero pisar em alguém)

pisar pelas cascas
escorregadia de banana
frágil é a de ovo
a gente tenta e se engana
se engana e se engana
de novo

subindo em barcos
mais uns passos nesse estágio
trajetórias que formam arcos
indesejáveis
invejáveis
de longe
e de perto na pele
indesejáveis

pisar pelos cascos
nos ascos desses navios
o pavio em contato
o barco todo por um fio
explosões
bombas colocadas
nos porões
trombas d'água
tempestades e clarões
que cegam
que recolham as velas
e deixem passar as chuvas
que extraiam dela
as lições
dessas águas turvas
desse céu escuro
antes dos paredões
e muros
no futuro serem um céu
de aquarela

vão passar
as ordens dos capitães
cujos papagaios até fugiram
capitães de leilões
com marujos desprotegidos
e inseguros
justos inimigos desses capitães
sem os pães de cada dia
sem os pagos, com atrasos
e sem juros
atrasam salários
salafrários e são duros
nas ordens que lhes convém
e os marujos
sobre as palavras e o chão
tão sujos
a improvisar palavrões
e impropérios apropriados
contra os capitães desgraçados
moídos como guisados
nos motins mentais
sob o sol, sobre os sais
daquela água marítima
e que ritma para lá e pra cá
até o ancoradouro dos cais
esses abatedouros mortais
que um dia
um dia menos navios
de castro alves
mais gente a salvo
mais gente com a chave
menos gente alvo
e o alvejante sob o sol ardente
os capitães na prancha
até ficar rente
se não com a vingança
ao menos com a justiça

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