08/02/2018

Pra onde e por quê?

Uma geração que procurou se diferenciar. Diferenciar das passadas e entra ela mesma, estabelecendo diferentes grupos para assunto, interesses e experiências em comum. Mas acabou se assemelhando bastante. A oportunidade do acesso à informação ou a diferentes entretenimentos não necessariamente modificou os hábitos ou gerou grande mudança das portas escolhidas.

Os trending topics seguem ditados pela grande mídia. Dos reality shows de confinamento, comida ou gente pelada no mato. Do esporte ao vivo, do futebol nacional ao produto dos Estados Unidos que cada vez mais chega às nossas telas. Assim o jovem nascido nos anos 1990 e começo dos anos 2000 está se formando e pensando seu futuro. O consumo midiático aumentou, inevitavelmente. Maior alfabetização, mas maior acesso aos meios digitais. Favelas e comunidades com extremas carências, mas com condições de parcelar um celular, ter um acesso à internet mesmo que do wi-fi vizinho. TV a cabo por gato ou por algum enroscar de fios que desperta meu toc apenas por ver imagens dos postes.

Enfim, esse alto consumo da mídia germina sonhos de infância e adolescência. A vontade de aparecer do outro lado da televisão, enquanto produtor de conteúdo. O desejo de ser visto, de ser lido. Muitas vezes pessoas que se espelham em ídolos criados nesses formatos. Raros esportistas, raros jornalistas, raros humoristas com espaço integral de aparição em horário nobre na TV, em grandes canais na internet. Mas a impressão na infância e na adolescência é que é bem possível chegar lá. E MAIS: de que vale a pena e é importante (pra quem?) chegar lá.

Por um período considerável de minha vida em cérebro infantil, considerava que os programas de auditório e grandes besteiróis televisivos poderiam ser jornalismo. Somente o amadurecimento (mesmo que tardio), o contato com diferentes realidades (necessitadas - de serviços públicos, de ajuda e não de solidariedades vendidas e gravadas) e o entendimento do que realmente pode ser essencial na vida dessas pessoas mudou minhas concepções, apontamentos e direcionamentos.

É uma questão complicada. Muitos dos jovens se fecham a essas realidades, negam a observação e consideração ao próximo e seguem seus sonhos inicialmente egocêntricos e aparecidos. "Me vejam, me notem, me leiam." Parando para a reflexão neste determinado momento, muitos chegam a esse ponto por alguns desses fatores comuns: 1) pais que incentivaram esse sentimento de especialidade; 2) ilusão de que os caminhos são largos e é bastante possível atingir objetivos desse porte, sendo que há poucas vagas de aparição tais quais as desejadas (basta ver que os poucos ídolos dessa geração são os mesmos e as pessoas que queriam estar em seus lugares são muitas, milhares para cada ídolo); 3) necessidade de atenção e/ou carência, nas necessidades familiares, em formações cada vez mais diluídas, assim como a maioria das relações; 4) egocentrismo em busca do chamado sucesso 5) em algum lugar, obviamente, o considerado altruísmo de querer ajudar e um mundo melhor.

Embora o quinto item possa ser atingido em outras profissões de soluções mais diretas, resultados fisicamente palpáveis ou irreparáveis e menos debulhada ao campo simbólico. Quanto vale seu texto, sua imagem, sua denúncia de problemas que serão ou não solucionados? Os quais serão apenas apresentados ao público ou trarão soluções práticas para resolução dos conflitos? Quanto vale seu trabalho de pesquisa e apuração? Seu desgaste de conta telefônica ou de disponibilidade para procurar e ouvir fontes? Por que o seringueiro recebe tão pouco no valor pífio de uma borracha? E o trabalho escravo, porém prático, segue a existir? E outras pequenas peças dotadas de valor simbólico extraviado custam fortunas?

O quanto ajudamos? O quanto queremos ajudar? O quanto é necessário ajudar? Salvar a própria pele? Salvar a pele de quem? O árduo e frio bronze da estátua dura mais. Mas ninguém quer saber.

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