15/10/2015

Futebol, a fusão dos mundos

"Futebol ao sol e à sombra", traz a alaranjada capa do livro de bolso do escritor uruguaio Eduardo Galeano. Símbolo de uma América Latina que foi podada durante séculos e teve o crescimento de seu povo desvinculado por valores e preços e pressões de invasores impiedosos e imperialistas. Conhecido por obras carregadas de política, ideologia e seu estilo próprio e singular de narrativa, Galeano aborda o futebol a olhares que somente um apaixonado, ao ver o aprisionamento de sua paixão, pode descrever.

Os contos são sutis e precisos, com toques de letra e lançamentos milimétricos, para, mesmo sem imagens, enxergamos o futebol em sua essência pelo globo. O uruguaio relembra tempos épicos de seu país, chamado inclusive por Pelé de "pai do futebol". As origens e folclores por Argentina, Brasil, Espanha, Alemanha e Itália ganham destaque.

Uma linha do tempo, resumida em melhores e piores momentos de uma modalidade esportiva que se tornou cada vez mais mercadológica. Um espelho das sociedades que também se apaixonaram pelo rolar da esfera de couro nos retangulares gramados de seus solos. O amor do hincha por um clube, a criação e mistificação de ídolos, as influências externas, a globalização, os atletas como mercadoria e como produtos.

Dos malabarismos de ousados praticantes à padronização na forma de jogar. O profissionalismo que sucumbiu os estilos próprios dos jogadores, reduzindo o livre-arbítrio das manobras com a bola em companhia. A exigência do espetáculo que transformou o corpo dos praticantes e aumentou gradativamente os registros de lesões ao longo dos anos.

Os grandes manobristas das cifras milionárias, das presidências de organizações que não prestam contas e não prestam mesmo, aos empresários e demais interessados no mercado da publicidade. As camisas, antes com o destaque do símbolo do clube ao lado esquerdo do peito, agora dividindo espaço com as mais diferentes marcas: locais ou internacionais.

Um panorama das forças políticas e diplomáticas que cercavam o mundo do planeta bola a cada Copa do Mundo disputada. Tudo isso narrado pelas célebres palavras de um escritor que jamais aceitou a padronização. Um escritor que, sem dúvida alguma, jogou junto com o Uruguai a cada mundial e com o Nacional de Montevidéu a cada Libertadores da América.

Um escritor que libertou na escrita, gritos entalados na garganta, com admirações ao que muitos já não mais admiram e com críticas ao que muitos jamais enxergaram.

Reforço o que eu disse em outra oportunidade: Futebol ao sol e à sombra não merece somente uma resenha. Merece um outro livro elogiando ao primeiro.

Foto: Henrique König

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