28/04/2015

Azul, rosa e uma confusão de cores

É noite. As luzes acesas sobre nós. A iluminação pública que, de alguma forma, reprime a violência. Onde há pouca luminosidade, na ausência de dispositivos luminosos subsidiados pela prefeitura ou na ausência subjetiva da piedade, o ruim ainda se espalha. Ele está por toda parte. Mesmo que seja reprimido, às vezes.

É um mundo de trevas. É um mundo de entraves para bons projetos, para boas ações. Ok, podemos fazer por nós mesmos em ajuda aos demais. Podemos executar nós mesmos as escassas boas ações, que os arredores muito necessitam. Canso-me pelas devidas proporções que mentalizo sobre a humanidade.

Os maus exemplos tomam conta em volta. A violência ganha na repercussão e na audiência. Vem demais. Vende mais. Penso, nesta exata altura do texto, que concilio ainda entre conversas virtuais e paralelas, que devo, quando encerrá-lo, encerrá-lo com uma mensagem positiva.

Talvez, a tal mensagem positiva seja uma forma de mentir para mim mesmo e aos leitores. Prefiro cortar esse barato. Ser sincero como não se deve ser. O positivismo baila fora da trama. Mal aê, camaradagem.


Explicação motivacional do texto
Tudo começou na aula da última segunda-feira. A professora nova ministrou sua primeira experiência com nossa turma e não pude deixar de observar o quão cor de rosa (literalmente) eram seus exemplos em sala. Com uma simplicidade, ao que me despertou uma sensação até de ingenuidade, ao falar das cores a serem empregadas no jornalismo, ela utilizou o exemplo universal: cor azul para meninos, cor rosa para meninas. Destacou essa questão como uma identidade reconhecida pelas pessoas. Daí, ela relacionou com as identidades do vermelho para sensacionalismo, do preto para luto ou tristeza e etc. Mas tudo iniciou no exemplo que me causou reviravoltas: o simples azul para meninos e rosa para meninas.

Enquanto estudante acadêmico e passageiro do trem chamado vida, esperava uma maior crítica dela em relação ao azul e ao rosa para criar identidades em crianças. Afinal, o mundo não é essa perfeição e essa simplicidade de dividir em azul e rosa e, talvez, de aprisionar em azul ou rosa. O azul ou rosa pode ser uma sustentação dos pilares para outros pontos conhecidos pelas crianças mais tarde: estereótipos (felizmente ela usou essa palavra uma vez em aula) de futebol é para meninos, brincar de boneca é para meninas. Estereótipos estúpidos de mulheres devem ficar na cozinha, só homens sabem dirigir... Essas ideias absurdas que são reproduzidas pela sociedade.

Creio que a intenção dela - e destaco que não a culpo - foi a melhor possível. Inclusive, a forma de passar o conteúdo a nós estudantes foi interessante e didaticamente boa. Mas, então, a partir desse ponto de vista de que o mundo não é cor de rosa, não pode se arramar a estereótipos e nem é fácil de entender, as linhas a serem escritas foram estimuladas.


Uma vasectomia chamada mundo

Ao ponto de saber que a professora tem uma filha pequena, pode ser esta uma das razões para a forma como aborda exemplos de uma forma carinhosa. Penso e repenso o mundo, hoje (talvez sempre), como um local difícil para me dar ao luxo de criar nele um filho. A tristeza reside em perceber que, mesmo com a melhor educação dada, a maior proteção feita, a violência e a maldade o cercarão.


Portanto, posso jamais desfrutar de comprar roupas azuis ou rosas para um descendente. Posso guardar a mim e aos meus textos meus devaneios e desilusões. Por hoje, parecem o bastante. O futuro, claro, tem aquela incerteza como predominância em seu nome. Mas, volto a dizer, não o vejo com a minha condição atribuída a ser pai.

É uma gangorra de prós e contras complicada e muita gente exalta momentos felizes em participar dela. A princípio, recorro à opção de não participar e, assim, creio que pouparei problemas. Para mim e para a criaturinha que não virá.

Ok, o mundo pode passar por algumas melhoras e saúdo a todos com o coração grande o suficiente para fazer atos e atitudes em nome dos próximos - já que muitos são os grupos de oprimidos. Por outro lado, as preocupações acerca dos problemas que nos cercam já bastam para minha pessoa. Pouco me sinto capaz de cuidar a mim mesmo. Menos ainda de dividir minhas gotas de responsabilidade com quem mais precisa.


"Há muitos sonhos a sonhar; há muitas vidas a viver", diz Gessinger. Nas missões hoje irrealizáveis a mim, deixo, entre as realizáveis, mais um texto de descendente. Boa semana, leitor que chegou à linha de chegada. Continue pensando-questionando-mudando o mundo aí fora.


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