Linhas de apoio:
Me apoiem, me alentem, calientenme linhas! O texto é sobre a impossível missão de agradar a todos. E sobre a nobre missão de abrir mão de nosso agrado para agradar alguns. Boa leitura.
Como diz o velho ditado: nem o cabeludo (será que era mesmo como os atores de propaganda de shampoo?) crucificado agradou a todos ao seu redor. E o ser humano é aquele bicho complicado, como já chegamos à conclusão em outras filosogadas da madrufia. A reflexão, a bola da vez nesse jogo de sinuca em que todos caímos, mas voltamos à mesa, veio através de uma manhã de correria.
Para mim, a correria acontecia por compromisso em pleno período matinal de domingo. Para outros, porém, a correria parecia ter começado mais cedo e por motivo totalmente oposto. Maratonistas, leigos e afins se reuniam em avenida próxima de minha casa para esticar as pernas em atividade esportiva. O acesso por onde meu carro passaria estava obstruído por imóveis cavaletes. Bah, vou me atrasar! Bah, extinto de violência! Essa não, é furada!
O motorista da frente queimou o pavio mais rapidamente e desafiou o agente de trânsito que monitorava a situação. Deu um cavalinho de pau e fez o retorno por onde veio, agora em contramão, correndo o risco de atropelar alguém. Complicando o serviço da manhã tranquila do agente vestido de azul. Primeiramente atordoado com a manobra ousada do motora revoltado, o responsável pelo tráfego logo apitou, ao não ser obedecido, em seguida ligou motor e foi atrás do infrator com sua moto. Onde já se viu? Foi peitar a lei e certamente deve ter levado um canetaço na sequência. Valeu a pena essa irritação, esse gesto rude e arrogante? O bolso provavelmente confirma que não.
Em meio ao estresse de quem tava com outros planos na tirada do carro da garagem, os maratonistas e corredores davam exemplo de esforço físico, de superação a cada passo em distâncias que não devem estar acostumados a percorrer. Davam exemplo de união, talvez iniciando amizades, ou quem sabe conservando outras pela prática do esporte. Parabéns a eles. O dia a dia reserva correrias e banalidades de olhar pros lados ao sacar e guardar o carro com medo de roubo, de catar vaga loucamente no movimentado centro urbano, de procurar arduamente o caminho mais curto no GPS ou a gasosa mais barata pra colocar no tanque. Mas aqueles homens e mulheres só queriam cumprir o cooper, vencer obstáculos, suar para liberar prazer.
Tão melhor correr ao ar livre (quando o livre também significa fugir um pouco dos combustíveis dos veículos) do que corretear pelas esteiras monótonas de academias claustrofóbicas. Realmente um belo exemplo dos corredores esforçados pela avenida Dom Joaquim. O agrado deles, infelizmente, não era meu agrado na hora. Somente minutos depois em pensamento, no cair da ficha do que realmente são as coisas. Perdi uns minutos que quase me custaram um atraso constrangedor, mas vi muitos ganharem o dia a cada passada com o olhar compenetrado que os fazia seguir em frente.
E esse exercício - o pensar nos outros beneficiados mesmo com meu parcial prejuízo - deve ser feito diariamente. Mais do que atividade física. Pense bem em quem escalar nos poderes legislativo e executivo nas eleições. Faz a balança com menos interesse próprio e mais altruísmo. Mais altruísmo na busca por vaga para estacionar. Mais altruísmo para não atrapalhar os demais com som alto. Para não largar o lixo em qualquer lugar. Parece simples, mas a praticidade do altruísmo é um gasto grandioso. Mas é recompensador, sem dúvidas.
O agrado a todos tem um carimbo de impossível reservado a ele. Mas por que não abrir mão de um pouco de nossas sensações egoístas e dar oportunidade aos demais de conseguir a alegria momentânea? Uma multa a menos na carteira dos pontos da vida.
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