Se o ano de 2013 do
futebol brasileiro foi marcado por muitas confusões entre torcidas em confrontos
físicos, o 2014 colocou em pauta outro problema social. O racismo até pode
parecer caso isolado, mas é exatamente nessa linha de pensamento que perdemos a
chance de fazer o verdadeiro debate pela sociedade.
A maior repercussão de
racismo nos estádios do país ocorreu na Arena do Grêmio. O goleiro Aranha parou
o jogo entre o tricolor gaúcho e o Santos por conta das agressões verbais que
sofreu de alguns torcedores. Aos gritos e imitações de macaco, a injúria racial
contra ele foi nítida. A punição veio em 3 de setembro, com multa e exclusão do
Grêmio da Copa do Brasil.
Logo após o crime,
grande parte da mídia apontou o dedo e fez a nuvem dos julgamentos chover sobre
alguns indivíduos identificados por cometer os atos de preconceito, além de
alguns veículos fazerem a crítica contra o clube Grêmio como um todo. Parcela
considerável dos críticos ao clube gaúcho passou a questionar cânticos da
torcida Geral do Grêmio, em que aparece o termo "macaco" para citar o
Internacional. Existe o debate sobre a origem confusa do termo usado pelos
torcedores. No caso se a palavra, adotada há mais de década em músicas, é
cantada com caráter racista. A Geral defende não ter essa intenção ao cantar,
mas a abertura para várias interpretações, por se tratar de um termo
mundialmente usado em atos de racismo, dá margem para condenação dessa torcida por
terceiros.
Partiu da própria
direção gremista punir a Geral após repetirem os cantos no jogo seguinte ao ocorrido
com Aranha. A torcida está proibida de entrar na Arena com instrumentos
musicais. Engana-se quem pensa que as polêmicas cessariam com a punição do STJD
ao Grêmio. Conforme pesquisa de torcedores, o passado de auditor do Supremo
Tribunal de Justiça Desportiva veio à tona. Nas redes sociais, Ricardo Graiche,
membro do tribunal, havia publicado mensagens de conteúdo racista. Um choque contraditório
que chega a invocar a ironia na causa.
Assim, o Grêmio tenta anular
o julgamento e alega falhas no STJD. Já Ricardo Graiche, de auditor, passa a
ser réu e não deve sair ileso.
Não posso esquecer da
exposição da primeira gremista acusada de injúria racial. A jovem Patrícia
Moreira, mostrada em filmagem insultando o Aranha, foi hostilizada de várias
formas, seja nas redes sociais, ou até com a casa apedrejada em Porto Alegre. Saliento
que a moça não é a única culpada e nem merece tal represália de quem busca
justiça com as próprias mãos.
Exemplo de vingança teve
a torcida do Flamengo no domingo (07/09). Com seus torcedores contrários ao
racismo, xingaram gremistas no Maracanã os generalizando como racistas. Além
disso, entoaram os comuns cânticos homofóbicos e xenófobos contra o Rio Grande
do Sul. Em resumo, o episódio traz algumas lições. É preciso apontar menos o
dedo ao próximo e ter consciência de uma maior autocrítica. Portanto, não se
deve combater um tipo de preconceito com mais preconceito. Agrega em nada no combate
ao racismo o uso de machismo (evidente contra Patrícia), homofobia ou xenofobia
(vistos no Maracanã).
O debate maior não é
sobre Patrícia, sobre o Grêmio, nem sobre os estádios. Racismo e as demais
formas de preconceito são um problema social do dia a dia de um Brasil
hipócrita, onde não se costuma mirar o próprio umbigo. São muitas as pedras
arremessadas por quem tem teto de vidro.
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