09/09/2014

O Racismo é Expandido, mas o Debate Não


Se o ano de 2013 do futebol brasileiro foi marcado por muitas confusões entre torcidas em confrontos físicos, o 2014 colocou em pauta outro problema social. O racismo até pode parecer caso isolado, mas é exatamente nessa linha de pensamento que perdemos a chance de fazer o verdadeiro debate pela sociedade.

A maior repercussão de racismo nos estádios do país ocorreu na Arena do Grêmio. O goleiro Aranha parou o jogo entre o tricolor gaúcho e o Santos por conta das agressões verbais que sofreu de alguns torcedores. Aos gritos e imitações de macaco, a injúria racial contra ele foi nítida. A punição veio em 3 de setembro, com multa e exclusão do Grêmio da Copa do Brasil.

Logo após o crime, grande parte da mídia apontou o dedo e fez a nuvem dos julgamentos chover sobre alguns indivíduos identificados por cometer os atos de preconceito, além de alguns veículos fazerem a crítica contra o clube Grêmio como um todo. Parcela considerável dos críticos ao clube gaúcho passou a questionar cânticos da torcida Geral do Grêmio, em que aparece o termo "macaco" para citar o Internacional. Existe o debate sobre a origem confusa do termo usado pelos torcedores. No caso se a palavra, adotada há mais de década em músicas, é cantada com caráter racista. A Geral defende não ter essa intenção ao cantar, mas a abertura para várias interpretações, por se tratar de um termo mundialmente usado em atos de racismo, dá margem para condenação dessa torcida por terceiros.

Partiu da própria direção gremista punir a Geral após repetirem os cantos no jogo seguinte ao ocorrido com Aranha. A torcida está proibida de entrar na Arena com instrumentos musicais. Engana-se quem pensa que as polêmicas cessariam com a punição do STJD ao Grêmio. Conforme pesquisa de torcedores, o passado de auditor do Supremo Tribunal de Justiça Desportiva veio à tona. Nas redes sociais, Ricardo Graiche, membro do tribunal, havia publicado mensagens de conteúdo racista. Um choque contraditório que chega a invocar a ironia na causa.

Assim, o Grêmio tenta anular o julgamento e alega falhas no STJD. Já Ricardo Graiche, de auditor, passa a ser réu e não deve sair ileso.

Não posso esquecer da exposição da primeira gremista acusada de injúria racial. A jovem Patrícia Moreira, mostrada em filmagem insultando o Aranha, foi hostilizada de várias formas, seja nas redes sociais, ou até com a casa apedrejada em Porto Alegre. Saliento que a moça não é a única culpada e nem merece tal represália de quem busca justiça com as próprias mãos.

Exemplo de vingança teve a torcida do Flamengo no domingo (07/09). Com seus torcedores contrários ao racismo, xingaram gremistas no Maracanã os generalizando como racistas. Além disso, entoaram os comuns cânticos homofóbicos e xenófobos contra o Rio Grande do Sul. Em resumo, o episódio traz algumas lições. É preciso apontar menos o dedo ao próximo e ter consciência de uma maior autocrítica. Portanto, não se deve combater um tipo de preconceito com mais preconceito. Agrega em nada no combate ao racismo o uso de machismo (evidente contra Patrícia), homofobia ou xenofobia (vistos no Maracanã).
 
O debate maior não é sobre Patrícia, sobre o Grêmio, nem sobre os estádios. Racismo e as demais formas de preconceito são um problema social do dia a dia de um Brasil hipócrita, onde não se costuma mirar o próprio umbigo. São muitas as pedras arremessadas por quem tem teto de vidro.

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