Com título de Moonlighting (1982), o filme conta a história de um trabalhador polonês melhor instruído que seus colegas, por falar a língua inglesa e se meter nos trâmites. Em meio à crise política que cercava a Polônia, Novak vai para Londres com outros três trabalhadores sob sua tutela, entre aspas. Ele é o líder entre os quatro por se comunicar com os empregadores. Com visto/passaporte para apenas um mês, eles precisam agir rápido em uma obra para restauração total de uma casa/apartamento (bem ao estilo britânico, como já devem ter visto).
O objetivo dos ingleses ao contratar a mão de obra estrangeira é reduzir ao máximo os custos. No início do filme fala-se em um serviço até quatro vezes mais baratos quando realizado pelos poloneses. As condições do emprego são extremamente precárias. Os trabalhadores poloneses dormem na própria obra. Um canto, uma esteira, alguns escassos pertences para cada um. Novak obviamente é o mais abastado, chutando para longe qualquer referência a um bom socialismo - ou talvez emulando as maiores desfaçatezes possíveis nos regimes. Assim, o líder do grupo é o que se comunica e recebe o dinheiro do contratante. Inclusive o filme todo se passa em inglês, com diálogos entre os trabalhadores polacos propositalmente não traduzidos.
Para além do protagonismo de Novak, os demais personagens até recebem nomes, mas pouco ou quase nada se sabe sobre suas vidas. Parece um recurso proposital para torná-los simplórios e pouco articulados, ainda mais diante de cultura e país que não conheciam. Novak lê jornais, compra os materiais necessários para obra, mesmo casado tenta encontrar um tempo para uma escapada e, de forma gradual, vai se tornando o grande canalha que dificulta inclusive a relação de prosseguir a vista do filme. É um personagem principal bastante audacioso e apegado a truques.
Novak articula golpes na vizinhança. Além da tentativa de flerte que, perdão, parece até bem secundária na trama, preocupa a Novak o escasso dinheiro que teria de dividir entre seus parceiros. Assim, o mal intencionado promove golpes a supermercado e tenta pechinchar sempre que possível diante das poucas libras que lhe restam. O cerco vai gradativamente fechando contra o canalha, com truques em decadência, confiança dos rapazes em baixa e o prazo para entregar a obra cada vez mais próximo do esgotamento. Com tantas dificuldades para equilibrar-se no estilo de vida britânico, Novak percebe que a grande oportunidade para voltar para Polônia com dinheiro valorizado acaba se tornando uma grande furada.
O filme transcorre acontecimentos paralelos, como uma grande repressão a movimentos políticos de oposição na Polônia, em uma batalha por direitos sociais e por uma maior liberdade no país. Procurando esconder de seus colegas de trabalho as informações, Novak camufla notícias, desconversa sobre a situação polonesa e busca manter a trupe organizada unicamente no objetivo de entregar a obra no prazo estimado.
Socialmente, chama a atenção a peculiaridade de contratar a mão de obra desconhecida, de pouca garantia, mas bem mais barata, movimento comum até hoje a muitos países, com diferentes recortes e possibilidades pelo mundo. Os Estados Unidos contam com latino-americanos, filipinos, a Europa com árabes e africanos e até o Brasil muitas vezes se favorece da diferença de oportunidades e moedas para contar com bolivianos, venezuelanos, paraguaios, haitianos e alguns africanos vindos de longe. Sobre o Paraguai, há um filme brasileiro sobre a contratação dos nativos deste país, principalmente na grande São Paulo, um filme antigo (mesmo ano do filme desta resenha, 1982, em tremenda coincidência) chamado de Noites Paraguaias - este conta como esses migrantes buscam qualquer tipo de emprego para resistir e acomodar suas famílias. O principal nesses assuntos é apontar as dificuldades do elo trabalhista, as tensões criadas entre os estrangeiros e os locais e, obviamente, muitas vezes o preconceito partindo do empregador e da comunidade em relação a esses estranhos em potencial. Trabalhadores homens com ou sem esposas, potenciais estupradores na visão dos locais, financeiramente pobres, talvez pouco instruídos e com costumes diferentes: o preconceito torna-se gritante. A adaptação sempre traz e expande climas de tensão e a continuidade das missões é posta em risco.
Assim, filmes com essa temática trazem excentricidades e pontos em comum, demonstram a vida e o convívio tensos em diferentes partes do mundo, cabendo a identificação do que se repete, do que se difere e onde a ficção encontra a realidade e a realidade bate na porta da ficção. Vocês cumprem os requisitos?
Classe Operária (Moonlighting)
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