Sapphire é um filme inglês de 1959, que decorre das investigações sobre a morte da jovem homônima (Sapphire, né), em que a polícia local deve percorrer as pistas entre uma família burguesa tradicional, a do então namorado de Sapphire, clubes de dança, pensionatos e demais lugares que levem a desvendar o mistério.
O tema racial é a grande cartada do filme inglês, mostrando o preconceito da sociedade britânica com os negros, cada vez mais frequentes na Londres e na Inglaterra como um todo. Esse filme pouco visto no Brasil chama a atenção para o tempo percorrido entre a sociedade inglesa do final dos anos 1950 para o período em que estamos, mais de 70 anos depois. E o que muda? Como são tratados os jovens hindus, negros, muçulmanos e demais minorias dentro da Inglaterra?
Durante a investigação, os próprios protagonistas da polícia assumem opiniões e percepções divergentes, sendo um dos investigadores mais liberal (ou ao menos imparcial na busca pela resolução do mistério), enquanto o outro vez por outra tece julgamentos, sugerindo inclusive que os negros voltassem de onde vieram. O companheiro, calmamente, pergunta: quando há um crime contra uma velha senhora deve-se eliminar os maníacos causadores ou eliminar as velhas senhoras? É o caso da morte da polêmica Sapphire, uma jovem filha de mãe negra e pai branco, julgada por ambos os lados em sua condição mestiça. Um de seus parceiros de dança, em depoimento, chega a afirmar que não gostaria de um envolvimento mais sério com a jovem, por conta de sua origem em família meio branca. O pai do rapaz não aceitaria.
Mas evidentemente os preconceitos que Sapphire sofre são de origem dos brancos, que não aceitam a presença dela em seu convívio. Pelo âmbulo da narrativa, outros personagens, como o capturado Johnnie, também passam pelas garras do preconceito, sendo rejeitadas ajudas enquanto é fugitivo, expulso de um bar e sofrendo depoimentos severamente agressivos por parte da própria polícia, que não está, apesar da maneira mais sutil, isenta das críticas na obra.
Um filme que prende de certa forma o espectador na espera pela resolução da resposta de quem matou Sapphire. As contradições, as mentiras, as percepções e os depoimentos conduzem a narrativa por caminhos sinuosos de uma Londres cosmopolita e desigual, recheada de preconceitos, de convívios complicados e de questões raciais, como propõe a sinopse do filme, que mais tarde causarão ainda mais polêmica e tensões na Inglaterra.
Em meio a tantos filmes rasos de crimes pelos crimes, de investigações policiais focadas apenas em métodos e para iludir jovens espectadores com expectativas de cumprimento de leis e ordens, Sapphire demonstra novas perspetivas sobre casos raciais que também suscitariam tendências fortes para recriminações, processos e protestos nas décadas seguintes nos Estados Unidos, por exemplo. E que, bem sabemos, pelo mundo, mas pelo próprio Brasil, ainda há muita desigualdade em formas de tratamento: policial, social e repercussão midiática - esta última que até não é o foco da narrativa Sapphire, mas poderia ser mais abordada.
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