05/11/2022

Roma, Cidade Aberta (1945)

Roma, Cidade Aberta. Filme de 1945. Parece muito propício para o que vivenciamos em 2022. Para o que ainda vivenciaremos. O filme se aventura pelas ruas de uma Roma ocupada pelos alemães na Segunda Guerra. Eles investigam opositores em busca de prisões e confissões. A história nos leva até um prédio e uma relação conturbada de Giorgi Manfredi, que vivia naquela construção, mas também vivia ausente. Que iria se casar com Pina, mas também andava com a dançarina de cabaré, Marina.

O personagem que parece tomar o protagonismo para si é o pároco Dom Pietro. Ele coloca os valores cristãos sempre em primazia. Quando questionado de como proceder em determinada situação, encontra uma saída com os ensinamentos de Cristo. É assim em palavras com a conhecida comunitária Pina. É assim até as sentenças finais, para Manfredi e para o padre.

O pároco tem restrições a métodos empregados, tanto da violência dos opressores, quanto dos métodos de resistência (como roubos a padarias) por parte dos acuados oprimidos. Mas Dom Pietro sempre deixa claro que tem lado e talvez os mandamentos se adaptem conforme as ocorrências. O mundo é mais complexo do que escritos absolutos sobre uma tábua.

As crianças também atuam, no melhor estilo de grandes filmes europeus posteriores, como o italiano Vítimas da Tormenta (1946) e o francês Os Incompreendidos (1959). Ou de grandes sucessos internacionais do cinema iraniano. A trama se desenvolve confusa em seu início, mas logo as peças não são difíceis de juntar. Conseguimos identificar denunciados e denunciantes, na atuação mordiscante da polícia alemã, Gestapo.

Além da exaltação de um cristianismo minucioso e portentoso nas decisões e dedicações de Dom Pietro, também habita o questionamento dentro da própria Gestapo e dos nazistas, por parte de um velho comandante beberrão, que justifica que justamente por estar bêbado recorda o que queria esquecer e acaba por dizer a verdade. Relembra missões anteriores e que a Europa tapou-se de cadáveres a troco de uma crença que nem ele consegue concordar mais. Obviamente a fala abala os militares em exercício, mas o procedimento, a máquina, o método não pode parar.

Entre as tensões do filme estão as prévias das investigações, as visitas até a ocupação do prédio, cenário maior da trama. As tentativas de fuga. Os diálogos. As traições entre romance, crenças e patriotismo. Resistência em busca da liberdade.

Para o final, Dom Pietro novamente reluz de protagonismo ao não se preocupar com a forma como pode morrer. "Não é difícil morrer bem. Difícil é viver bem." - Postula o padre, após observar tanta dificuldade de quem batalhou contra a fome, de quem tenta resistir a um regime autotitário e reconhecido até por seus atores como facínora e mortífero. Frases para história do cinema e filosofias para vida de todos nós.

Filme é do diretor Roberto Rossellini, mas tem também as assinaturas de Federico Fellini e Sergio Amidei

Dom Pietro Pellegrini, interpretado por Aldo Fabrizi

Anna Magnani tem atuação magnânima


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