25/09/2021

Sobre as críticas

Quando e se me perguntarem sobre o que gosto nas obras do cinema, responderei que precisam me vender sua ideia. Preciso ser comprado, fisgado ou alguma palavra mais dócil. Atraído, é possível. Preciso identificar que a história poderia ser verídica. Não na exigência de um realismo, mas na possibilidade de acreditar no que estão me mostrando. Seja numa realidade paralela, preciso identificar que aquilo é possível.

Para isso, personagens muito preto no branco, como dizem, geralmente não me servem. Preciso de conflito, preciso acreditar que eles existam. De alguma maneira precisam ser possíveis. A gama de variáveis é enorme: pessoas consideradas ruins tentando praticar o bem. Pessoas consideradas boas inclinadas a atitudes desprezíveis, talvez com seus motivos próprios. Mundos paralelos me apresentando novas formas de pensar. Novas realidades através de civilizações diferentes, organizações e sistemas parecidos ou distintos. Aproximações e distanciamentos do que estamos saturados de viver no dia a dia. A busca pela identificação nas atitudes das personagens. A busca por apontar que aquele personagem pode ser visto no cotidiano da sua cidade ou resgatado das memórias escolares mais soterradas em nossos baús.

Enfim, precisam me convencer. E apesar de chegar aqui chutando a porta, listando algumas exigências, passo longe de ser exigente. Costumo concordar com os autores e procurar entendê-los. Seja nos livros, seja nas criações cinematográficas. Até mesmo nos esforços da produção das pinturas. Procuro contextualizar e entender onde querem chegar. Acho louváveis as produções. Muita gente critica com o prazer da depreciação alheia, seres incapazes de construírem suas próprias histórias, de apontar caminhos em suas narrativas. Preferem depreciar o trabalho alheio e destruir quem equilibrou os blocos.

Os autores precisam, sim, se esforçarem muito para me desagradarem. Mas faço várias ressalvas. Percebo na pressa com que escrevo e não gostaria de apagar. Nada de subtrair trechos agora. Me dou conta de que escolho minuciosamente. E, vejam bem, isso não restrito às obras com as quais me deparo. Faço uma separação na prévia de assistir. Leio sinopses, procuro alguns resultados, levo em consideração indicações de quem realmente me conheça. E sabe? Geralmente acertam. São bons em dizerem que tal livro ou tal filme possa ser do meu bom gosto, de minha boa causa. Agradeço a cada uma dessas indicações que me formata e constitui no que me torno. Realmente grato.

Através desse parágrafo anterior fomento o ponto de vista de que, sim, infelizmente muitas obras me deprimem. Me deprimem no sentido de nada me acrescentarem, e aí me trazerem a sensação da verdadeira perda de tempo. E costumo fazer várias concessões. Se consigo aproveitar alguns pontos da totalidade de um filme ou livro, focarei no positivo. Juro. Boas cenas ou citações podem salvar uma obra. Ao menos para minha cabeça e minha crítica que aqui teço. Então, a decepção quando não consigo extrair algo de livros e filmes é muito grande. Dou-lhes todas as oportunidades de me agradarem. Alguma passagem, uma mera lauda, um dependurado de frases, um poema, uma cena marcante, uma boa ambientação, um bom roteiro mal trabalhado, um ator ou uma atriz que tenha se preparado bem para a função ou, melhor ainda, incorporado seu papel com maestria. Tudo isso pode ser salvo, excluindo uma análise mais crítica ao todo. Procuro subir as notas levando em consideração o que me agradou, o que me atraiu.

Portanto, algo na obra que alguém levou tempo e esforço para desenvolver me comprou, ou me fisgou, ou, realmente a palavra que me pareceu mais propícia a esse desabafo textual: me atraiu. Vou relevar outros pontos de meu desagrado e guardá-los. Ou melhor liberá-los para que encontrem aconchego em outras pessoas destinadas como público-alvo. E, olhem que curiosa a expressão de público-alvo. Posso ser público-alvo das tosqueiras maiores envolvendo zumbis até as filosofias mais densas a que o homem equilibrou-se na corda bamba contra a morte para desafiá-la. E está tudo bem. Afinal de contas, não estamos tão longe dos zumbis quanto imaginamos. E isso que muitas vezes me fascina neles.

É isto aí. Bom desenvolvimento a todos. Não digo que procurem me agradar porque eu mesmo posso me direcionar rumo ao proveito e ao gozo. E, no final, das contas, prefiro escrever sobre o que eu gosto e me atrai do que os pontos negativos que identifico nas obras. Mas os diabos que não me testem. Neoliberalismos e meritocracias não passarão impunes pelos meus olhos. E é por isso que os evito, caso não tenha ficado claro. Além do mais, o mundo 'real' já está repleto de coisas ruins para falarmos. Não gostaria de ater meu tempo à negatividade das obras a que me submeto.

Bom desenvolvimento a todos. Silêncio à reflexão ou aplausos? Estamos abertos a várias ofertas.

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