Muitas vezes precisamos ter cuidado com aquilo que contamos ao vento, porque as pessoas vão imaginar nossa história a partir do que foi dito. Na boa intenção delas, elas servirão-se a partir do que foi dito, no seu testemunho, da sua versão. Mas também, na má intenção, a partir do que elas inventam podem sair as coisas mais escabrosas e dantescas. Quanta fofoca cabeluda não foi implantada muito antes dos modernos implantes e técnicas de crescimento capilar?
Quantas versões de histórias minhas que eu considerava seguro compartilhar tomaram rumos diferentes, distintos do que eu imaginava? A imaginação e a maldade humanas são perigosas, como bem sei e bem posso imaginar alguns dos caminhos que, paranoicamente, alguns de meus relatos tomariam nas bocas alheias. Como um chiclete que vai de boca em boca, mas ao invés de perder o gosto, as pessoas adicionam temperos e sabores para a narrativa, fazendo com que o narrador original de seus feitos perca-se em um mar de deslavadas mentiras, ou mesmo ganhe-se, porque seus feitos também podem ser ampliados. Quem nunca contou uma pequena anedota ou história particular dos tempos idos de escola e essa tomou proporções anteriormente inimagináveis?
Isto é absolutamente perigoso quando perdem-se as rédeas em campos de atuação como a área dos ciúmes, dos sentimentos ligados ao coração, do passado que cônjuge não imagina ou não quer imaginar. Isto é absolutamente perigoso quando se trata de implicar terceiros, de prejudicar outras pessoas que inicialmente nada teriam a ver. Querem inventar, já acho ruim inventarem de mim, mas que inventem de mim e não sobre outros desprotegidos desconhecedores de sua cabulosa narrativa. Não mexam comigo, mas antes mexam comigo do que com meus amigos. Como soam generosas e altivas essas citações, não é mesmo? Enfim, era um breve relato reflexivo sobre o poder das palavras, que colocam as pessoas em saias justas demasiadamente grotescas, em apertos, em situações de contra-parede.
E ainda há quem diga erroneamente que elas, as palavras, causadoras de guerra, de cabeças cortadas rolantes, de fuzilamentos, de papéis rasgados, trancafiados, escondidos, engolidos a seco, que as palavras conciliadoras em reuniões entre os mais poderosos do mundo, palavras-ordem de lançamentos de mísseis, palavras que servem para compras simples como um salgado em padaria ou para compras bilionárias em produtos high tech estrangeiros, palavras que mandam cavar em busca de petróleo, palavras que mandam soldados atirarem, palavras que jogam pessoas contra governos, palavras de governos que jogam pessoas para dentro da cadeia, palavras formuladoras de matrimônios e divórcios, de receios, de anseios, de medos, de expectativa, palavras que amaldiçoam, palavras que passam ordens e estratégias, palavras ensinadas nas mais diversas traduções e idiomas, palavras que ocupam semestres e histórias, conteúdos descartados, reaproveitados, engavetados ou até - mesmo que raramente - diariamente usadas, alguns erroneamente se referem que as palavras não possuem poder!
seria dizer que as palavras não possuem poder um dos piores usos possíveis para as palavras?
Nenhum comentário:
Postar um comentário