Tive um último sonho. Estava na minha antiga escola, no pátio adjacente ao ginásio. Não lembro o que fazíamos para passar o tempo. Estavam todos lá. De repente, houve uma chamada e segui os demais que iam entrando para o ginásio. Ocorreria algum evento. Era Olimpíada. Havia como que classes posicionadas junto à linha lateral da quadra. Poderia ser um local de espera improvisada para realmente entrarmos em cena, ou poderia ser a tribuna, também no improviso, para assistirem aos fatos. Conforme foram tomando posição, escolhi uma cadeira. Percebi que fiquei na divisória entre nossa cor e a adversária. Havia dois meninos, que na época não sabíamos, hoje sabemos que são gays. Eles nos provocaram, à espera de vencer. Eram dos oponentes da ocasião. Realmente eram de outra turma. Um me acertou uns tapinhas no rosto. No sonho eu estava indefeso, sem reação de reflexo para impedir.
Aguardei ali as diretrizes daqueles jogos. A coordenadora surgiu ao centro, como se fosse um show business. Só faltava o microfone descer do teto por um fio, em direção à sua mão. Mas talvez ela realmente erguesse um microfone. Estimado público.
Do nada traziam uma caixa com algo dentro. Ela anunciava a atividade, capturar o coelho cinza. Achei absurdo. Alguns se prontificaram em ajudar na caça. Seria uma equipe contra a outra. Provavelmente com vitória de quem capturasse antes. Me repousei o corpo contra a parede, as mãos para trás. Não quero. Não vou. Um colega tenta me convencer. Sem chance. Deixa o coelho. Que tipo de jogo é esse?
Ela de repente abre a caixa antes das equipes se posicionarem devidamente em volta. O coelho naturalmente dispara. Foge. Eu meio que comemoro. Até vou um pouco em direção a ele, talvez tomado pela curiosidade de onde vai parar o bicho. Ele vai pela única saída em que não precisa driblar o público. O coelho cinza some. Fico aliviado e aflito. Onde ele vai se esconder? Até quando? Alguns se prontificam para capturá-lo para o grande número, afinal, o que vale é o jogo, o que acham ser lúdico. Idiotas. Eu fico paralisado. Esperando e não esperando encontrá-lo. Muitas coisas na vida são assim. Se espera e não se espera encontrar. Quer e não se quer.
Mediante a ineficiência dos demais em encontrar o sofrido bichinho, saio daquela paralisia, mas não retorno à posição de origem, nada da lateral junto à parede, onde eu torceria junto ou não, mas me recusaria a participar daquela brutalidade, daquela selvageria. Pensei em todos os ritos de caça, nos mais e nos menos necessários, alimentação ou dito esporte. Malditos os últimos.
Percorro o ginásio rumo à saída pelo qual eu havia entrado, é uma abertura do solo ao teto. Antes, próximo da trave, da goleira, sou interceptado pela coordenadora, com um sorriso amarelo de quem falhou e deixou o coelho escapar, e também um antigo colega, o único melhor do que eu na matemática do fundamental. A coordenadora era professora de matemática. Ele se pergunta porque eu ando encolhido, curvado, cabisbaixo, de má postura ereta. Apenas respondo que sou assim. A coordenadora faz coro. Eles ficam ali a me analisar. Eu tomo o rumo da saída. Curvado, virguloide, decepcionado. Com tudo. Com todos.
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