01/10/2020

Momentos de Lucidez

As pessoas costumam querer o contrário de seus pais, ou ao menos almejar querer o contrário de seus pais. No 'momentos de lucidez', o pensamento de hoje foi justamente me vendo muitas vezes como imagem e semelhança de meu pai. Eu que o considero tão contraditório à minha pessoa, mas que, no fim das contas, reagimos de forma muito semelhante em diversas situações. A biologia deve explicar de várias formas.

Percebi, nesse raciocínio, que para mim estaria bom repetir os passos galgados por ele no passado. Seria mais feliz, não tenho a mínima dúvida. Mesmo que lhe falte a tão importante consciência de classe, é minha própria consciência que me suga de canudinho a cada dia. E um dia o canudinho roncará pelo fim da linha.

Na síndrome por fazer diferente também se escondem as velhas políticas em períodos eleitorais, em que sempre se camuflam de novo. O exemplo mais óbvio por agora deve ser o tal de Partido Novo, que nas câmaras de deputados é incoerentemente o partido mais alinhado às péssimas, devastadoras e cruéis políticas bolsonaristas. Novo só pelo nome e pelo estrondoso mau gosto de alaranjar nas cores.

Na síndrome por fazer diferente, o jovem acaba muitas vezes querendo apenas modificar o que seus pais ou geração passada, em geral, faziam, sem dali colherem frutos, que, em uma visão ampla e analítica, sempre existem. Fazer tudo ao contrário também é copiar, diria algum sábio do passado.

Reitero o ponto de que estaria mais contente caso eu pudesse, de alguma forma, copiar os passos que meu pai traçou, mas tenho total ciência de que não posso ser como ele. Faço do meu jeito, no meu caminhar trôpego e seguidamente desvairado em nossas filas para lugar nenhum. Chama-se vida, eles disseram.

Se me alargar mais por essas linhas, perderei totalmente a ideia inicial, que era tão curta para registro. Mas fui ao banheiro e arrisco mais umas. Percebi o cheiro positivo dos produtos de limpeza (nem sempre assim o são, mas dessa vez fora). Percebi num raciocínio que os banheiros cheiram como banheiros em qualquer lugar, mesmo em casa, caso não cuidemos com o limpar necessário de tempos em tempos. A única diferença é a quantidade de usuários, podendo ser só você ou até uma família, quatro a doze pessoas, enfim. Se você não limpar, ele terá o cheiro de urina que os banheiros públicos têm. Os públicos apenas possuem o vai e vem, o trânsito, o anonimato, os desconhecidos que entram e saem daquelas cabines e não tratam como se fossem o de suas casas, errando o alvo e vocês sabem o quê mais.

De óculos, pensei em minha imagem estética e como eu poderia usá-los havia mais tempo, porque minha visão definha, de alguma maneira, desde os 18 anos quando frequentei as idas ao exército, no interminável processo de seleção. Cumprimentei meus amarelados dentes, da cor da toalha para enxugar as mãos. Lembrei da apresentação de rede social de grande amigo meu, que inclusive mandou mensagem nesta madrugada após longo período sem falarmos: sinais? Ele que se apresenta como "escovando os dentes de um estranho todas as manhãs". Filosófico. Experimentem o duro praticar de se olhar no espelho, apreciar ou horrorizar-se com o reflexo. No fim de tudo, procurar a aceitação dessa passagem. Eu poderia ser como meu pai em vários aspectos e assim eu preferiria. Tenho certeza que me estressaria menos.

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