05/08/2018

cronocrimenes

Cada vez que me deparo com os espaços em branco que predestinam e se amostram no aguardo de minha escrita, é o embarque de uma nova viagem. Sei ou pelo menos creio saber, ter alguma ideia do que vou em seguida escrever, mas a construção final é sempre distante de qualquer molde.

Assim também é a vida real aí fora. E bom que seja. Posso conhecer para onde estou viajando, mas o destino final, as ações e interpretações sempre terão um quê, um teor, um sublime de novidade. Posso saber onde vou jogar bola, mas não sei como virão os chutes, os passes, a sucessão das jogadas. Posso saber as falas de um filme, mas alguns detalhes das cenas, antes despercebidos, me serão novidade. Posso conhecer, ou achar que conheça certas pessoas, mas as pessoas também se modificam entre elas. Sequência de experiências e acontecimentos que não ficamos sabendo, ou ficamos sabendo de forma incompleta, ou ficamos sabendo pelo ponto de vista de terceiros.

Cada embarque num texto é diferente. É como um embarque em uma linha de ônibus. Conhecemos a pontuação, as palavras e o tamanho dos parágrafos em média. Conhecemos quanto tempo demora o ônibus ou o trem ou o veículo que for para fazer determinado percurso. Mas com quem estaremos? E quem vai cruzar nosso caminho? Entre demais passageiros, pedestres e motoristas nos trajetos. Gente que cruza pela gente.

Fazendo os mesmos percursos de quantas e tantas vezes, me nascem, me ensaiam, me florescem novos textos. Novas perspectivas. Estão o tempo todo em rotação. Dançam com novos autores que possa estar lendo, com novas pessoas e pontos de vista que eu possa estar convivendo. Brindam com imagens, notícias, manchetes e reportagens. Brincam com músicas ou com outros barcos em nossos ancoradouros.

Metamorfoses ambulantes na linguagem conhecida do que possa ser música popular brasileira. Metamorfoses ambulantes, mas quem tem as bulas que mudam a todo instante? Em outras citações de sabedoria popular, aprendemos que a graça, o objetivo dos portos e suas embarcações é a coragem de novamente partir.

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