03/03/2018

90 e poucos

a vida passa como uma chuva de bobinas de papel na entrada em campo
um bobinaço
orgasmo e exaltação
e a vida passa como um jogo daqueles dos 90 e poucos minutos
e odiaria, como nas experiências que tive no concreto do estádio,
perguntar ao desconhecido torcedor, na hora amigo, ao lado,
o tempo de jogo
- são 30 do segundo tempo
e o crepúsculo da partida se aproxima
e percebes que não valeu, que tu, na condição de arquibancada,
não deu o máximo de ti
e o time, em campo,
não deu o máximo dele;
não roubou aquela bola
não arriscou aquele chute
não subiu para conferir aquele escanteio
o placar é detalhe no suor que escorreu
quando tudo, treinado ou não,
foi feito
a entrevista do juízo final
sai mais fácil
quando os lábios pronunciam
que foi feito tudo que se pôde
que dentro do jogo
houve oscilação
melhores e piores momentos
mas que foi um jogo disputado
e que o caminho para o vestiário é distante
porque a perna pesa do esforço feito
e que o torcedor perde a voz
porque cantou
porque cobrou a arbitragem
e incentivou o time
e chamou atenção do time
e tentou como ele podia
e o jogador sai esgotado
pensando no repouso do dia seguinte
e na volta aos treinos dali a dois
e o torcedor sai extasiado
pensando no trabalho do dia seguinte
e na volta ao trabalho dali a dois
e a vida se vai
como o refletor do estádio
para voltar
enquanto há volta
90 e poucos minutos de vida

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