21/08/2017

Em uma Imagem

Vasculho a cidade e observo muitas coisas. São tantas que quero colocá-las no papel, atravessadas pelo meu ponto de vista. São tantas que encontro o problema de não saber como iniciar ou como terminar, mesmo sabendo que as situações observadas servirão como o corpo do texto.

Recentemente, concluiu-se um concurso chamado de Pelotas em uma Imagem. Didático. Qual a melhor imagem para ilustrar a cidade? Não vi os participantes, até pensei em participar, mas prazos e, quando vê, já foi. Vi os postais dos três primeiros colocados. Gostei muito das três escolhas, fotos distintas, a cidade presente em ambas.

O terceiro lugar com uma imagem do trapiche da praia do Laranjal em uma coloração tão rara que jamais vi de tal forma em minhas visitas à praia. O segundo lugar de meu amigo de imprensa, Leandro Lopes, com a estátua de João Simões Lopes Neto (coincidência nos Lopes?) com o nevoeiro característico do inverno, em prédios antigos e tombados ao fundo. (Não gosto da expressão 'tombado', parece que derrubaram esses prédios que, na verdade, tornam-se, a princípio, inderrubáveis pela ordem da lei.)

O primeiro lugar foi uma foto mais humanística (é esse o termo a ser empregado? Bom, errar é...). Uma criança paralisada com a música vinda da vassoura do músico Serginho. Para quem é de fora, isso mesmo, o cara se apresenta em um banco da praça com uma vassoura personalizada em cordas para tirar acordes e passar algumas mensagens no microfone igualmente reciclado, reaproveitado, reinventado. Criatividade na aparelhagem e nas músicas compostas.

O menino branco e o Serginho negro. Uma cidade que convive com essa realidade, muitas vezes mal reparada (de conserto e de observar!). A foto acabou ficando mais fraca talvez tecnicamente, mas é um grande registro. Passo por Serginho seguidamente. Procuro captar algo de suas mensagens. Certa vez ironizava o fato do museu da Baronesa abrigar coisas tão rotineiras e supérfluas, mas tratadas com uma aura especial pela comunidade por terem pertencido à aristocracia local, a mesma que escravizava ou detinha privilégios nada encontrados pelo restante da pequena população local à época.

Pelotas em uma imagem. Tchê, Pelotas em uma imagem, diz aí o que se passa?
► É o fim de tarde na confusão da Marechal Floriano, entre lojas e pessoas procurando os ônibus que seguirão ao Fragata. Sol que desce e cortinas de ferro que se baixam.
► É a confusão na General Osório de madrugada. Asfalto e iluminações novas e as velhas boates, cada vez mais perigosas, onde nunca sabemos se é brincadeira ou briga séria.
► É a multiplicação dos catadores de lixo. Alguns levam até a reciclagem. Outros querem é tentar uma refeição ou terminar a dos outros.
► É o emaranhado de luzes, a frenética má combinação de bebidas e drogas em frente à universidade particular, onde seguidamente ocorre abordagens policiais para coibir a perturbação do silêncio feita pelos carros de som ou apreender irregularidades por consumo ou documentos vencidos nos veículos.
► É o paralelepípedo no chão e as cores do grafite nas paredes do Porto.
► É rave em charqueada.
► É a saída em frente à escola estadual Assis Brasil, com seus estudantes de distintas origens em uma área nobre da cidade.
► É cocô de cachorro na General Argolo.
Não conheço todos os bairros. Tampouco a zona rural.

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