08/07/2014

O ouro ao redor

Ao redor ainda brilham. São luzes de faróis, enfileirados. É a sinaleira imóvel em seu ciclo de verde-amarelo-vermelho. Os postes vão acender quando necessário for. Os faróis não vão parar na faixa de pedestre e, por trás deles, a buzina será acionada se o condutor achar conveniente. Sem se preocupar com a fragilidade auditiva/emocional próxima. A escuridão nada mais é do que interna, é o luto tomando posse. Lá fora, do outro lado, todos seguem apressados e, mesmo que olhem rapidamente, não adivinharão.

Passei na frente de um aglomerado de pessoas na caminhada deste 7 de julho, aniversário de 202 anos da cidade em questão. Não que um ano a mais ou um a menos mude o diagnóstico da situação. Os trajes formais e de predominância em tons mórbidos não me fugiram da percepção. O fato da assembleia ocorrer ao lado do maior cemitério municipal também facilitou a associação a uma partida. - Mais um - comum pensamento talvez a quem habite a área do bairro, distante do meu. Para quem toma o tal caminho pela calçada em frente ao velório, é mais provável que ignore. Não se trata de algum ente querido, nada que o sujeito tenha sido convidado.

E assim se vai, o que se passa por ali, em apenas um instante é teu passado e nada de retornar àquele ponto, àquela imagem. Já passou. Para quem ali fica, estático, num turbilhão de emoções doloridas, em maior ou menor grau, não passa. Ainda vai demorar.

E na aldeia ao redor, ninguém parece ligar. Somente, é claro, os reunidos por alguma filiação ao desconhecido (por mim) que se foi. Isso me faz pensar que os povoados de hominídeos e das civilizações mais antigas reuniam-se e nutriam uma determinada aproximação. Se algum viesse a falecer, a comunidade provavelmente pararia, faria um ritual e entrariam TODOS em sinal de respeito aos que buscam domar o momento angustiante.


Em nossas repartições atuais de bairro/cidade, pouco temos em comum. Talvez a maior coisa em comum com teu vizinho seja a rede elétrica, que na casa dele pode faltar ao mesmo tempo em que na tua (nem sempre). Muitas vezes, principalmente no acelerado vai e vem das metrópoles, pouco se sabe sobre quem se esconde na parede ao lado do apartamento. Ou no andar de cima. Ou no andar de baixo.

E assim se vai, dia após dia na tua rotina despreocupada. Ignorando até as maiores aglomerações em luto. Seguindo um fluxo que TU julgas NORMAL.

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