30 de setembro de 2024

Tacitamente

Taticamente 

Tacitamente 

Se você enxerga tudo

Fica louco 

Porque o pouco que se faz

Não satisfaz


Dentro do campo de jogo

Dentro dos campos políticos

Água no fundo do poço 

O mundo feito um troço 

Um tricô destituído 

Do destino do próximo


Taticamente 

Tacitamente 

Se você enxerga tudo

Fica louco 

Porque o pouco que se faz

Não satisfaz


Taticamente

Tacitamente 

A mente se excita 

Evita o tempo do ócio 

Prepara na medida

Complemento, episódio 

Se você enxerga tudo 

Fica louco 

Porque o louco que se faz 

Não é mais louco 

É sagaz

Olhos Grandes

Os olhos dela eram tão grandes 

Pensando se estava drogada

No deserto de pessoas

Ela como uma granada 


Sua maquiagem expressiva

Seu jeito de fim da linha

Nossa destruição massiva

Doses, fantasias minhas

Doces fantasias minhas 


O trem entregava jornada

O que quer mais o viajante?

O viajante quer mais nada

Olhos tão desconfortantes 

Olhos tão reconfortantes 

24 de setembro de 2024

"Levava debaixo da armadura a sua roupa de louco."


Roberto Bolaño em descrição sobre o poeta Wolfram von Eschenbach

23 de setembro de 2024

21 de setembro de 2024

Forró da Morte

A morte bateu na porta

Mulher de porte

Já não importa

A morte em seu trottoir 

Não veio à trote

Nem absorta

Veio em sua missão

Tirar palavras da sua boca

Morte em liquidação

Morte lenta

Morte em vão 

Morte na cidade

Apartamento, pensão 

Morte na avenida

Atropelada, morte ferida

Celebridade, desconhecida

Morte encomendada

Morte suada, abençoada

Morte assistida

Morte casada, morte de sorte

Morte de azar, morte em boicote

Morte no shot 

Headshot, bon soir 

Morte noir, morte tranquila

Morte shot de tequila

Morte em banco, morte na vila

Morte televisiva 

No walk talk, na bohemia 

Morte na delegacia 

No doi codi, no final de um disco

De Pink Floyd, morte de risco

Morte por vidro, por inalado

Morte do viciado

Morte por idade

Morte sem identidade

Morte beldade

Bate na porta

Mulher de porte

Já não importa

Morte com os olho aberto

A boca torta

Morte chamou 

Tu já se troca

Vestido longo

Gravata bota

Morte da velha 

Da meninota 

Morte veloz

Morte jabota 

Morte bandida

Do suicida 

Morte homicida

Morte por cota 

Investigada 

Ou esquecida

Ou arquivada 

Morte vingada 

Ou esquisita

Morte sem saída

Cara virada 

Para baixo ou para cima

Morte, morte, morte

De rotina 

Aves de rapina

Que sobrevoam 

Que saboreia

Morte na ceia

Ou no seio do forró

Morte, morte, morte

Só sobra o pó 

Sobra o pó

14 de setembro de 2024

Paul McCartney

Paul McCartney 

É mais do que sei

É mais que pensei

É mais que esperava

Baby 


Paul McCartney 

Compõe um salmo 

Sob essa selva

Sobre essa relva

Não me salvei

Se eu me salvasse 

Seria com

Paul McCartney


Beatle Paul 

Diga hey

Hey ho 

O rock n roll

It must be you say 

Let it roll 

Paul McCartney


Beetlejuice 

Beatle Paul 

That's true 

It's only rock n' roll


Paul McCartney 

Art in your name

If exists rock n roll

It must be you play


Play McCartney 

I understand 

Its only love but 

Its the only way



12 de setembro de 2024

Dálias

As mentiras que você contou

Deveria engoli-las 

Sepultá-la em dálias negras 

Ou até lilás


As migalhas de um ano ruim

Pelas últimas ruínas

Me sentir muito melhor assim

Sem o que nos azucrina 


Pensar ter medo de perder

O que eu já não tinha

E se tinha, ter para quê?

Há vida melhor sozinha


Tenho amigos, música, tv 

Livros, filmes e rotina

Muito mais do que preciso

Longe de umas tiranias

O realista hoje é um alarmista.

O alarmista hoje é um realista.

10 de setembro de 2024

Escrevo coisas horríveis sobre ela

E não publico 

Porque isso aqui não é depósito de conflito 

Nem penico 

Anfíbio

Poemas de um poeta mendigo 

Será que ainda vivo?

Será que ainda consigo?

Com os signos que estão ao meu alcance

Será só um relance?

Será todo um romance?


Poemas de um poeta mendigo

Digo de forma reta

E digo com rodízios 

Digo... palavras obstretas 

E digo sem abrigo:

Será que ainda vivo?

Será que ainda consigo?


Poemas de um poeta antigo

Digo... de forma abjeta 

Recito fora da cerca

Retiro o que me espeta 

Recibo de só uma promessa

Será que ainda vivo?

Será que ainda consigo?


Poemas de um poeta anfíbio 

Sapo... sapo de valeta

Girino... girino de início 

Girando por encantos movediços

E vários vícios 

Será que ainda estou vivo?

Será que ainda consigo?


Poemas de um poeta sinistro

Canhoto, canhestro, capiroto

A fome do ego é fortíssima e se manifesta de diferentes formas: possessão, domínio, interdependência forçada

3 de setembro de 2024

O Nome da Rosa + Diary of a country Priest

Por ontem assisti ao filme O Nome da Rosa de 1986. Inspirado no livro famoso de Umberto Eco. Um mosteiro no norte da Itália. Um jovem aprendiz e seu mestre. Crimes que se sucedem sem solução imediata. Investigação. Profanações as mais diversas. Cruzamento entre a vida de monge e a vida pagã. Pecados, culpa e remissão. 

O jovem experimenta as tentações. Os livros se tornam o foco da jogada. Foi a primeira experiência cinematográfica em que visualizei o que diziam sobre os mosteiros guardarem as bibliotecas da época. Os primeiros registros. Cópias bíblicas e de outros livros que deveriam ser mantidos inalcançáveis, em sigilo, adormecidos em segredo. As bibliotecas eram labirintos guardados a sete chaves. Ler conteúdos seria profanar. A Idade Média corria assim antes da luz renascentista e o avanço das ciências. 

Os ratos permeiam a narrativa. A doença era uma chaga constante. As mortes passam a ocorrer. Suicídio ou vilania? Alguém empurrou o irmão de uma altura para morte ou se matou? E o outro que amanhece descoberto de cabeça para baixo? Questões que interrompem a tranquilidade da vida no monastério.

Por fora do treinamento dos padres, ocorria a vida pagã, que, para os compromissados na pureza cristã, eram profanadores, pecadores dos mais sérios. Renegar a Jesus nessas condições renderia penas máximas. A Inquisição atuava forte, perseguição a ser destacada com i maiúsculo. A destruição das barreiras é evidenciada ao final na cena que com certeza usou maiores recursos financeiros.

Diary of a Country Priest

Este filme de 1951 se tornou um de meus favoritos. A vida do jovem padre transferido para o interior da França. Os desafios em que ele passa para ser aceito, para dominar seu vício em álcool, para deter ou não seus desejos pela mulher que se apresenta.

O jovem ganhou a desconfiança dos demais em um primeiro momento. Tenta fazer amizade com um contraditório caçador, profissão mais comum ainda para época. 

A sequência da vida do jovem D'Ambricourt (papel de estreia do ator Claude Laydu) é permeada de enigmas, contradições, debates de valores sociais. Até hoje é notável a diferença do tratamento, da confiança em cidades grandes ou vilarejos de interior. Os valores católicos foram testados e metamorfeados constantemente. As possibilidade de mudanças sociais para indivíduos do campo se apresentavam muito limitadas. Entre o ser e o parecer a diferença pode ser gritante.

Quais os requisitos para alguém liderar uma vila? Para ser um líder respeitado? Para ser um padre confiável? A religião seguida à risca seria o antídoto aos vícios ou pode se tornar o próprio vício?

Os desvios da vida Santa devem ser sempre contornados ou nos fazem humanos? Perguntas que saltam e que podem permanecer após acompanhar as trajetórias cristãs de ambos os casos transcorridos nos filmes em questão. Perguntas que se modificam conforme as épocas ou que até em nosso período contemporâneo permanecem torneadas.