Seu amor está sufocado porque ele não dá resultado prático há muitos meses. Há muitos anos, há muitas décadas. Seu amor é unilateral, você ama o clube e ele nunca te corresponde.
Você implora para que ele vença o próximo jogo, porque Eduardo Marinho já nos anunciava que nesse esporte bestial alguém tem de perder. E é sempre você, seu fracassado, e seu clube estúpido quem perdem. E não basta que percas, que te remoas consigo mesmo, que não consigas comer a próxima ou as próximas refeições, que não durmas quanto deites a cabeça ou não levantes quando de levantar esteja a hora. Isso não basta. Você e seu amor em leito, em UTI precisam ser achincalhados, humilhados, pisoteados, exauridos até a última pancada por um bando de desocupados que serão também eles os primeiros a pedir que não pules, que não desistas, que não ceife yourself.
Bando de imbecis, animais, no pior do termo, que não respeitam seu amor, que o espezinham, tratam na maior crueldade, tirania, infortúnios expostos, desgostos arrefecidos, dores incalculáveis, fraquezas que cobrem corpo a corpo. Diligências compartilhadas, febres estonteantes, risos de dor, demência conjunta, moradia de um coração inabitável.
Muitos sofrem comigo, cada um a seu jeito, despedaçados após mais uma destruidora derrota que acaba com sua semana, e essa semana vira mês, esse mês é mais um ano em processo de acúmulo e logo se passa uma vida. Ninguém do outro lado, do inimigo, se importa com você. Você tem os seus, mas também não sabe mais a quem recorrer, seu sentido de comunidade é falso, assimétrico, quimérico e você está sozinho nas calçadas do luto. Calçadas não. Sarjetas.
Tudo é dor, dói e corrói. Foi, mas não passa. Tudo você lembra. Tudo te machuca. Tudo enluta. E você cansou de levantar só para cair pisoteado, chicoteado, nocauteado de novo. Você cansou. Você cansou e pode se livrar disso. E deve se livrar disso. Você tem mais o que fazer. Só ainda não sabe o quê.
Não sabe, vírgula, porque o amor por um clube dói. Arde. Invade. Queima até a última ponta, até mais tarde. Vira em brasas um amor que surgiu muito antes de qualquer outro e que agora corre paralelo se não submerso no esgoto.
O amor por um clube arde e não sei mais o que fazer com o meu.
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