13/11/2023

O amor por um clube dói

O amor por um clube dói mais do que qualquer outro. É o amor que será rejeitado não por uma pessoa, mas por milhares ou milhões de inimigos, que reincidirão suas grosserias, seu ódio, sua estupidez contra o seu amor semanalmente. Machucarão, chutarão, cuspirão, bradarão, odiarão até que sucumbas, porque desse amor não estás tirando mais seiva, mais fruto. 

Seu amor está sufocado porque ele não dá resultado prático há muitos meses. Há muitos anos, há muitas décadas. Seu amor é unilateral, você ama o clube e ele nunca te corresponde.

Você implora para que ele vença o próximo jogo, porque Eduardo Marinho já nos anunciava que nesse esporte bestial alguém tem de perder. E é sempre você, seu fracassado, e seu clube estúpido quem perdem. E não basta que percas, que te remoas consigo mesmo, que não consigas comer a próxima ou as próximas refeições, que não durmas quanto deites a cabeça ou não levantes quando de levantar esteja a hora. Isso não basta. Você e seu amor em leito, em UTI precisam ser achincalhados, humilhados, pisoteados, exauridos até a última pancada por um bando de desocupados que serão também eles os primeiros a pedir que não pules, que não desistas, que não ceife yourself. 

Bando de imbecis, animais, no pior do termo, que não respeitam seu amor, que o espezinham, tratam na maior crueldade, tirania, infortúnios expostos, desgostos arrefecidos, dores incalculáveis, fraquezas que cobrem corpo a corpo. Diligências compartilhadas, febres estonteantes, risos de dor, demência conjunta, moradia de um coração inabitável.

Muitos sofrem comigo, cada um a seu jeito, despedaçados após mais uma destruidora derrota que acaba com sua semana, e essa semana vira mês, esse mês é mais um ano em processo de acúmulo e logo se passa uma vida. Ninguém do outro lado, do inimigo, se importa com você. Você tem os seus, mas também não sabe mais a quem recorrer, seu sentido de comunidade é falso, assimétrico, quimérico e você está sozinho nas calçadas do luto. Calçadas não. Sarjetas.

Tudo é dor, dói e corrói. Foi, mas não passa. Tudo você lembra. Tudo te machuca. Tudo enluta. E você cansou de levantar só para cair pisoteado, chicoteado, nocauteado de novo. Você cansou. Você cansou e pode se livrar disso. E deve se livrar disso. Você tem mais o que fazer. Só ainda não sabe o quê. 

Não sabe, vírgula, porque o amor por um clube dói. Arde. Invade. Queima até a última ponta, até mais tarde. Vira em brasas um amor que surgiu muito antes de qualquer outro e que agora corre paralelo se não submerso no esgoto.

O amor por um clube arde e não sei mais o que fazer com o meu.

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