Um surrealismo à brasileira, cheio das cenas mais absurdas com um elenco que apenas deixa prosseguir. A história de um casamento todo desfalecido entre a esposa de irônico nome Felicidade (Norma Bengell) e seu marido Sérgio (Hugo Carvana). Após uma discussão mais acalorada, a mulher reage e mata o marido no quarto de um hotel de estrada. Ou assim o pensa. Prontamente, Felicidade foge com a filha Betinha, que rouba a cena do filme.
Betinha ganha destaque sempre pentelhando a mãe e pensando nas situações mais absurdas, embora, também com um senso prático, demonstra vivacidade e instinto de sobrevivência. Ela percebe a perseguição de um carro atrás do delas na estrada, numa fuga do Rio de Janeiro a São Paulo (ou de São Paulo, onde moram, ao Rio de Janeiro, não recordo).
A perseguição se acentua até que o perseguidor percebe no posto de gasolina uma oportunidade para galantear Felicidade e oferecer-lhes ajuda. Sérgio era um empresário importante, réu confesso de passar gente para trás, segundo o próprio testemunho de Felicidade. Críticas pontuais a modelos econômicos, por que não? A um machista Sérgio de casamento infeliz, pai de família mais importado com a ideia de aplicar golpes financeiros para prosperar às custas dos outros. Desconfiado por natureza a ponto de contratar funcionário para que, por sequência e tabela, vigie a esposa. Este é Sérgio, que pouco vemos e só ao início da trama.
O ponto máximo do filme é quando recostam-se a uma cidadezinha de arquitetura tipicamente do barroco à brasileira, algo sudestino em direção ao Nordeste, de aspecto Minas Gerais, interior do Rio de Janeiro e não nos surpreenderia perdida ali se fosse uma Bahia. Lá o trio, entre as duas perseguidos e o funcionário perseguidor, choca-se com um excêntrico casal, de hábitos e costumes deslocados da realidade, sendo ele um dentista, de pouca comunicação e combinação com sua esposa. Servem-se a bom tom de uma hospitalidade enquanto a tensão segue crescente de qual será o destino para Felicidade e a espoleta Betinha.
Mar de Rosas colhe de grandes aspectos surrealistas, entregando um produto bastante peculiar, em que podemos ver traços de bons diretores europeus, como Buñuel, ao passo que só no Brasil transcorrem determinadas cenas. De 1977 para a atualidade de quem quiser conferir, sempre contextualizando as dificuldades de propor certas críticas em plena ditadura militar brasileira. Direção da detalhista Ana Carolina.
Nenhum comentário:
Postar um comentário