26/02/2023

Nosso amor

Oi. Estou mal dos nervos de novo. Me afetam da cabeça ao pé. Talvez eu morra amanhã ou outro dia. De um dia nenhum de nós passa. Mas talvez o meu seja mais próximo. Quem sabe? Posso ter até uma hemorragia interna na forma como sinto. Eu não sei muito de medicina, reconheço. Mas que os nervos me afetam todo o organismo, tenho certeza e qualquer opinião diferente disso não perderei tempo em escutar.

Mas caso eu morra amanhã ou hoje mesmo, quero que saiba que parto muito feliz de um dia termos nos conhecido, conversado, nos aceitado e por nos amarmos. Te amei da única forma que consegui e acho até que fiz um bom trabalho. Você me amou como és e na verdade me sinto lisonjeado de receber tamanho retorno, que realmente não sei se mereço. Por isso sempre convivo contigo momentos lindos em que me vem tendência para gratidão - embora não gostes que eu agradeça tanto. Mas eu agradeço. Também te doei dias de minha vida, horas de conversa, pensamentos, experiências, conhecimentos e muitas, muitas piadas tolas. Sinto gratidão também por reconhecê-las. Meu humor não é fácil ou para qualquer um. Ponto de corte altíssimo.

Lamento não ter sido perfeito, embora eu ache que ninguém realmente almeja a perfeição. Ela assusta mais do que os defeitos. Te amei assim como és e, no fim das contas, no fechamento da comanda, é preferível ter vivido assim do que idealizado o impossível.

Não fujo de uma questão, de que em caso de morrer cedo também lamento não ter vivido mais. Talvez mais amores poderiam ter sido, não para obstruir o que vivemos, mas explorarmos novas possibilidades. Gosto de pensar que a vida é experimentação. Mas também gosto de experimentar e viver contigo. Quando falamos tristes e deprimidos, adorei compartilharmos isso em uma mesa de bar diante de garrafas de cerveja - e alguns drinks terminados em gelo. Se a depressão nem sempre se vence, mas com ela bastante somos obrigados a conviver, vamos tentar lidar com ela da melhora maneira possível. Não acredito em soluções mágicas ou em palpites de terceiros que nem suas vidas conseguem resolver. Vejamos as nossas. E, quando olho para minha, agradeço fielmente estares ao meu lado. Você fez valer minutos, horas, dias, meses preciosos em que consigo destacar o positivo e ignorar até mesmo os nervos que me assolam. 

Também não paro de pensar agora no rapper que conheci e soube que morreu em bairro afastado por facção obrigatória na trajetória de quem tomou  - ou foi tomado - por essas escolhas. Lamento porque lembro de ter conversado com ele e curtido seu trabalho, suas ideias e suas músicas. Muitas vezes o que almejei na vida eram momentos simples assim de experimentação, troca de experiências e admiração. E eu muito te admirei, de verdade, e curti que me admiravas. Por hoje isso me basta. Uma forma de chamar de amor e saber-se estar com ele. Um amor figurativo e palpável. Um amor em seus olhos e seus braços. E suas pernas, inevitavelmente as cito. Um amor em nossas ideias e até ideais. Um amor, um lugar. Para viver ou para morrer. Um amor. Nosso amor.

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