18/04/2022

Nesses dias cinzas

Um pássaro esgravota no telhado vizinho. Não sei o que ele procura, mas ele encontra. Ele é mais bem preparado do que eu.

Me tornei um adulto frágil. Tão frágil quanto meu guarda-chuva pelas esquinas de ventos imponentes da rua 15 de Novembro. Ele enverga, se dobra todo. Eu ando corcunda, tentando passar despercebido pelo mundo.

O pássaro consegue o que procura e voa para outro telhado ou para seu ninho, para onde deve ir. Eu não sei o que procuro, não sei se consigo e continuo a vagar envergado, dobrado pela umidade e chuviscos da rua 15 de Novembro, desviando das pessoas protegidas pelas marquises, recolhendo meu guarda-chuva no espaço estreito entre as paredes e os postes. Cuidando os novos sinais de trânsito que indicam quantos segundos nós temos. Sem saber quanto tempo temos nesses dias cinzas.

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