Estar deitado contigo te vendo revirar os olhos. Por tudo ou por nada. Sentir o arrepio da pele de suas coxas. Sua vagina irrigar-se. Constatar como um estudioso elaborando um relatório. Chegar ao auge da evolução humana em um movimento ao mesmo tempo neandertal.
Gosto muito de passar o tempo deitado preguiçosamente. Contigo então é exemplo de certeza de não ver o tempo passar. Colecionamos assunto em uma coleção sem esforços. Passaria dias inteiros assim não fossem as necessidades fisiológicas e financeiras. Não fosse minha deficiência constatada em vitamina b12 e aproveitaríamos mais. Não fosse linha urgente em apontar esses problemas desnecessários e seria um texto mais bonito. Seriam só aspectos positivos, mas a vida jamais será assim. Idealizações não são a vida e a vida passa longe das idealizações.
Por isso me levanto longe de ti e sigo tarefas as quais não queria me decupar o tempo. Mas são a única alternativa para seguir, com a mente distante entre o que é lembrança e o que é expectativa. E o que é você, passado, na mente o presente e o futuro... futuro do presente ou do pretérito. Meu mais que perfeito que mais nada conjuga nos verbos, mais que perfeito que só serve em nossas pobres e pretensiosas analogias.
Me estendi demais quando só queria estar estendido ao teu lado. Mirando nossas pernas, sua ampla vantagem. Contente apenas pelo simples verbo de ligação estar. Estar contigo, estar em finito mundo e momento que nos englobam infinito. Esquecer qualquer outro resquício de tempo. Torneira fechada para qualquer outra substância mundana que não seja do nosso mundo. É como uma bolha, uma redoma. Um isolamento dos problemas e não o problema que geralmente é um isolamento. É estar contigo, seus cabelos a enredarem-se e desfiarem-se com graciosidade. É a boca em suspenso à espera do próximo gesto. É o segundo que congela como uma fotografia que logo em seguida já será lembrança. É o sorriso de canto imperceptível à distância. É a distância que inexiste quando estamos assim juntos. Sintonizados em mente e corpo. E às vezes mais corpo, às vezes mais mente.
Nós. De pernas, braços e pronome. Nós, como o ato de atar ou nós primeira pessoal do plural. Us arrancados em inglês ou Nosotros na extensão prodigiosa do espanhol. Queria estar estendido ao teu lado, atravessado desertos de sóis escaldantes para terminar assim e ter enxergado no congelamento de um segundo que tudo isso, que toda travessia valeu a pena.
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