07/01/2022

A despedida de ontem (1966)

Para quem acompanha dessas linhas o esboço ou formato verossimilhante a um diário, tenho passado as últimas horas em forte contato com o cinema. Assisti a grandes filmes que concorreram ao Oscar de melhor película internacional. Destaque para Mar Adentro (2004), cujo eu talvez lance linhas sobre. Mesma situação de A Ponte da Desilusão (1959).

Mas término aqui um filme que eu havia começado a assistir em 2021. A Despedida do Ontem. E só agora me dou por conta de que é uma forma também de me despedir do meu ontem, do meu ano passado, 2021.

Enfim, o filme trata de um tipo de narrativa comum na Nouvelle Vague francesa dos anos 1960. Embora este de Kluge seja alemão, de 1966. A jovem Anita com ficha criminal e perseguida pelas autoridades. Estava na onda criticar os governos e seus aparatos de repressão. Ocorre que, pelo que consta, nazistas também estavam envolvidos pois perseguiram os pais da jovem Anita. Ela acaba solitária vagando pela Alemanha da época. Saindo do leste para o oeste, onde não se encontra. Críticas bem humoradas e passagens sobre a arte e a filosofia vigentes abrilhantam este filme, conforme os franceses também sabiam fazer com maestria.

Fiquei pensativo quanto ao título: Despedida de Ontem. Como é difícil muitas vezes nos despedirmos do ontem. Creio que principalmente quando assim precisamos. Quando não há tamanha necessidade, quando é indiferente, parece ser uma tarefa mais fácil. Para Anita, a despedida de ontem seria recomeçar, uma nova vida, ter para onde ir, ter com quem contar, após a ausência de sua sumida família.

Para muitos de nós a Despedida de Ontem pode ser um emprego, um caso amoroso, uma nova cidade. É o rompimento de laços, é o avançar para novos portos. É saber conviver com o passado, sabendo que ele até pode ser evocado,  mas em geral muito mais coisa é descartada ou fica a apanhar pó no porão. As despedidas de ontem em geral são menos dramáticas que a vida incessante e ofegante de Anita. Mas elas estão por aí e todos estão, em algum momento e de alguma forma, se despedindo de seus ontens. 

Ou tens ou tens: todo mundo possui folhas de calendário acumuladas por se despedir.

Jovem Anita, personagem principal da Despedida de Ontem, filme que acompanha suas travessias errantes pela Alemanha da época.


Nenhum comentário:

Postar um comentário