19/07/2021

vento na janela

a janela bate com o vento

na constância de um ritmado pêndulo

faz pensar minha decisões vividas

faz pensar as que ainda serão decididas

faz pensar em como todas doem

faz pensar onde elas podem

me levar

o vento sopra na sua inconstância 

me leva daqui aos tempos de criança

às vezes leva embora às vezes traz

minhas ânsias 

às vezes a paz forma com ele aliança

e com vento a janela balança

traz com ela o corvo de alan poe entre outras

lembranças

e se hoje a umidade não a embaça

do corvo e dos tempos restam sobre ela

carcaça 

o vento animado ou só fazendo seu trabalho 

rebatendo-se nos galhos das plantas

traz maior preguiça para quem se levanta

traz a esperança a quem fica deitado

o vento personagem central audível 

de acordo com quem ele contata

bate na murada, na calha e na estátua

bate na escada, nas folhas farfalha

em tabela da janela aos meus ouvidos

trilha sonora dessa hora dos pensares

desconhecidos

se sobrepõe por novos caminhos

entre idos e vindos - trajetos perdidos

entre os achados segundas domingos

e álbuns de fotos há tempos sem carimbos

pelos carinhos há muito acabados

pelos clamores há muito apagados 

pelos amores que já não me desperta

não é possível com esse vento deixarem

janela aberta 

Um comentário: