11/03/2021

Esperanças Recônditas

Não, saí para respirar um pouco e estava a pensar que nem tudo que penso ou escrevo será aproveitado. Não, não na questão se vão ler e utilizar de alguma forma intelectual ou mais prática na vida. Questão de que nem tudo vai prestar. Deve ser comum para várias profissões, inclusive, como cozinheiros ou cabeleireiros. Não se acerta sempre. Talvez ainda sirva de aprendizado. Talvez.

Obviamente, o tempo útil de um texto também pode ser duramente afetado. A efemeridade. De repente, o que pensei ou teci por agora, de nada vai valer daqui a uns anos, daqui a uns dias, ou mesmo daqui a umas horas. O jornalismo impresso, gravado na pedra, está com o tempo como inimigo nos últimos tempos. As opções digitais podem ser facilmente alteradas. Marca-se (ou não) a data e horário da alteração e segue-se o baile. No impresso não, estará lá computado para registros póstumos.

Muitas vezes escrevemos por impulso ou por desabafo momentâneo. É geralmente nesses indutos que acabo escrevendo muita coisa. Será que minha racionalidade irracional ou irracionalidade racional terá fins positivos futuramente? Me importa que no momento em que foram escritas me valeram. Às vezes penso onde elas podem chegar. Velha metáfora da cartinha enrolada em garrafa em alto mar. Que os piratas possam surrupiar.

Erro muitas previsões, naturalmente, mas esses dias constatei que acertei sobre Flamengo e Palmeiras alternarem títulos de 2018 em diante. Realmente foram os únicos campeões de Campeonato Brasileiro até 2020. Flamengo ainda faturou Libertadores em 2019 e o Palmeiras a seguinte, em 2020. Monopólio do futebol nacional. Mas errei previsão, sim, pois acrescentei a esses dois clubes, o triunvirato do Corinthians, que tem ficado fora das disputas desde o seu título brasileiro de 2017. Tem contraído dívidas e não tem encontrado o seu melhor futebol em desempenho nas últimas temporadas. Devolvam o Luan ao Sul. Devolver o Luan seria um erro que eu estaria disposto a correr.

Vi uma dessas mensagens reduzidas em microblog - Twitter - garantindo a importância do amor e que deve-se apostar nele. Concordo, deve-se valer o risco. Mas fui ver quem havia curtido essa mensagem. Somente pessoas com namoro ou casamento adiantado. Talvez uma dessas pessoas não, mas na esperança. Pensei: assim fica fácil. As pessoas utilizam as suas vivências e experiências práticas como verdades absolutas. Não é bem dessa forma que a banda toca. Mas ok, admirável otimismo de vocês. All you need, etc.

E realmente é muito importante isso do amor. Do se sentir amado. Desperdicei algumas formas dele, reconheço. Talvez não tenham sido poucas vezes. Mas também imagino e reconheço que não o aproveitaria da melhor forma. Tenho meus impropérios (sentido 2º: censura injuriosa; repreensão) e minhas dificuldades para lidar com isso. Certa vez escrevi meio poema, meio aproveitamento aqui em prosa: saber lidar é o bastante. Como lidar é a questão.

Minha real preocupação antes de vir aqui são os cenários políticos. A polarização novamente está formada, Grêmio, eu te dou a vida, por esta jornada. Não, os cenários políticos. O otimismo total da liberação eleitoral para Luiz Inácio e seus discursos iniciais preponderantes. É uma luz, como foi classificado. O atual desgoverno inclusive passou a, vejam só, usar máscara na pandemia. Altamente radical. Lula é efusivo. Falou em ser radical para atacar as raízes dos problemas nacionais. Frase de persuasão e impacto. O Brasil era muito melhor no tempo do Partido dos Trabalhadores. Nas oportunidades, na renda, no controle da economia, que chegou a uma das melhores do mundo. Nas vagas universitárias e de ensino profissionalizante, nos auxílios desde a profissão de serviços domésticos até a quem estudava e procurava primeira oportunidade no mercado de trabalho. Auxílios para moradias, financiamentos, respeito internacional, comitivas bem recebidas e recebendo bem. Política participativa. Tanta coisa era melhor e foi sendo desmanchada desde o golpe de 2016. É completamente injusto comparar o governo anterior ao atual desgoverno. Não são duas faces da mesma moeda. Não são farinhas do mesmo saco. Não é uma escolha difícil, como pode sugerir o editorial de grandes jornais. Será que um dia esqueceremos esse editorial criminoso, que empurra o Brasil para uma das piores, se não a pior, gestão de pandemia no planeta? De um "líder" que não utilizava máscaras até Luiz Inácio ser liberado com seus direitos políticos a, quem sabe, se as coisas derem certo, concorrer. De um ignorante das questões sanitárias e de saúde. De um verdadeiro genocídio, pois que outro nome dar às vésperas das 300 mil mortes no país? Qual outro nome, vos pergunto?

Não é meu campo, não tenho formações em ciência política, então procuro absorver de outros especialistas, mas, irrequieto, também arrisco meus pitacos. É facilmente para registros póstumos que podemos afirmar que Lula é muito superior a Bolsonaro. Talvez sejam, inclusive, as extremas, as oposições, os que se diferem demasiadamente. O Brasil do PT da melhor economia, do Bolsa Família, do Fome Zero, dos programas sociais elogiados mundo afora, por ONU e outras entidades, pelos ensinos técnicos, profissionalizantes e universitários, pelas vagas ofertadas, pelos ataques que a grande mídia descarregava furiosamente, criminosamente com capas de revistas, com editoriais de jornais. E o Brasil atual de nenhuma responsabilidade social - já dizia o companheiro Marroni para outros - do colapso da saúde, porque as soluções anteriores ofertadas não foram procuradas. Porque as vacinas não vieram, demoraram a vir, passou-se todo o 2020 e precisou-se organizar mórbidos containers para arrecadar os corpos já sem vida. Vidas que não voltam mais. A economia ainda poderá voltar - mas digo, não com eles. O combustível vai seguir subindo, o gás de cozinha vai seguir subindo, os alimentos nas bancadas e estantes continuarão a subir em preço, ao menos enquanto o mesmo ministro da economia permanecer. Ele não sabe gerir, não sabe gerir para o povo, não sabe controlar a alta dos preços, vai desvalorizar a moeda real até os seus confins, vergonha internacional, mais uma a ser sentida, para as mais diversas críticas da imprensa de outros países.

Nem tudo que eu escrever ou pensar será aproveitado, mas novamente me encontro ao tentar alinhar os desabafos. Na certeza que o pior ainda não passou, mas pode passar. Na certeza que a saúde e a economia ainda descambarão suas tragédias em um tango longe de seu findar. Não há piloto, há cortinas de fumaça, mas o antigo piloto deu as caras. Pode retornar. Ou não. É o país das surpresas, das reviravoltas, da Justiça com suas injustiças. Ficou claro que ele poderia concorrer em 2018. Que sua sucessora foi deposta em golpe em 2016. Disso não há dúvida. Disso já sabíamos. Já deveríamos saber, embora muitos ignorem. E, na minha concepção, erre ou acerte, acredito na vontade popular de que ainda há possibilidade dele voltar a vencer. Mas são muitos fatores na tortuosa estrada. Se estará elegível ou não, na reabertura de processos judiciais e novo resultado de absolvição ou condenação. A depender de como será a futura campanha políticas. As futuras alianças a serem desbravadas. Sozinho, no campo de esquerda? Não há como. Mas seu vice anterior era José Alencar e houve o episódio mais do que conhecido com Michel Temer, além de José Sarney, Renan Calheiros e outros. Não há como acreditar na pureza, somente da boca para fora. Mas como serão as campanhas políticas em um país movido nas últimas temporadas a ódio? Altamente arriscado. A proximidade física, o aproximar com o povo, o corpo a corpo, ou manter-se a cautela para evitar uma catástrofe, uma tragédia, como já houve ataques violentos a tiro na fronteira do Rio Grande do Sul e como houve (ou não) o incidente que afastou candidato de debates em 2018. E pensar que hoje em dia quase tudo é no modo digital, nas câmeras, nos aplicativos zoom, nas aulas online, nos ambientes virtuais e na época ninguém obrigou a ocorrência de debate, mesmo à distância. Frouxidão e desgoverno, lado a lado.

Encerro por aqui sem a certeza dos acertos, mas com a consciência em alinhamento com o dever cumprido novamente, pelos meus impulsos para a presente época. Espero que os mais otimistas estejam certos com essa volta, pelo menos na semana, triunfal e rejuvenescedora. Mas entendo o processo como um caminho muito longo a ser caminhado. Tudo está distante do rompimento com as nebulosidades que ascenderam nos últimos tempos. Eles ainda têm o controle, o poder, as tentativas de veto, as tentativas de censura, as intimações, as armas na mão - como abordou Luis Fernando Verissimo. Eles ainda têm a gestão desregulada e imprópria da saúde e do combate à pandemia, tudo muito lento, muito devagar para haver a devida massa popular às ruas pelos direitos a serem mantidos, conquistados ou reconquistados. É necessário caminhar com os passos que nos forem possíveis. Sem a esperança intacta - pois já foi muito apedrejada e afetada - sem a ideia de pureza política e ideológica, sem pensar que o livramento das sombras será fácil, mas que ainda ali, em canto recôndito, ainda é possível arrumar boa parte da casa.

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