03/09/2020

O Fantasma e A Canção - Antônio de Castro Alves

Então, nas sombras infindas,

Se esbarram em confusão

Os fantasmas sem abrigo

Nem no espaço, nem no chão...

As almas angustiadas,

Como águias desaninhadas,

Gemendo voam no ar.

E enchem de vagos lamentos

As vagas negras dos ventos,

Os ventos do negro mar!

“Bati a todas as portas

Nem uma só me acolheu!...”

— Entra! — Uma voz argentina

Dentro do lar respondeu.

— Entra, pois! Sombra exilada,

Entra! O verso — é uma pousada

Aos reis que perdidos vão.

A estrofe — é a púrpura extrema,

Último trono — é o poema!

Último asilo — a Canção!...

Bahia, 13 de dezembro de 1869


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