12/04/2020

Rocketman

Elton John é um artista que sempre admirei. As músicas são tocantes, balançam como a chama das velas ao vento, as velas dos barcos ao vento e conversam com a alma, que é quem realmente precisa se sentar para beber um chá de vez em quando. Ou algo mais forte, como o próprio pianista diria.

Após assistir ao desfecho de Rocketman, filme sobre a vida do britânico Elton John, a apropriada metáfora de um queijo suíço me desfalece o corpo. Sinto os poros e os vazios, o ar atravessar-me. A solidão que ele sentiu mesmo rodeado em dinheiro e fama, e sexo e drogas, é preocupante. Converso com muitas almas, revezo cafés, chás, cervejas, mas todas me parecem passageiras. Seja espiritualmente, no que não podemos conciliar de mais denso para tratar, filosoficamente incompatível, seja pelos planos que - quais são eles? Me distanciam e mexem comigo. Afastar-me de portos seguros em direção apontada para onde?

Tudo que despejo em conversas sobre os mais variados assuntos, tudo que desaguo mesmo no encanamento à correnteza dessas linhas, tudo ainda perpassa como ponta do iceberg, como pedaço de fóssil não catalogado. Nem cabeça do fóssil pode-se afirmar, pois cabeça seria a parte mais importante ao desvendo de mistérios. Um braço, uma perna, um membro, uma pata. Só isso encaminhado.

Penso qual resposta seria-me dada ao ser mais sincero. Aprendi a desconfiar das pessoas pelas maldades - com ou sem motivo, planejada ou oportuna, surpresa ou improvisada - que ocorrem. Não posso abrir-me de todo, mantenho-me. A linha da estrada, os faróis à noite, é preciso deles. Ainda é. Não posso me permitir sair, para onde me levariam? Receio internações, medicamentos pesados. Ao menos que modifiquem na raiz do que compreendo e tento sobre a vida, de que adiantariam? Remédios preencheriam nada.

Pelo que se luta se, aos mais diversos exemplos, grandes realizações são distantes e só surgiriam a grandes custos e com quais benefícios? Com quem caminhar para elas? Quem te entende? As pequenas coisas, o dia a dia, o sol da manhã, o pão do café, o copo dele, ou de suco ou voltemos ao chá? Onde estão as almas? Estão sentadas à mesa? Estão em qual recinto, se é que estão na casa? Estão na cidade? Onde elas estão?

Agradar ao outro. Responder o 'sim' querendo dizer o 'não. Não esperar que o outro, que o próximo entenda o 'não'. Sabe o preço, sabe o desgosto, conhece o desaforo de cada 'não'. Mas conhece também por não ter dito. E isso engasga. Não! Não necessariamente a estrada é por ali. Não é por onde tantos passam. Não é o que tantos ouvem. Não é o que tantos escolhem. Não é onde o asfalto até gasto está de tantos os que passaram. Será a beleza de uma estrada em terra? Poeira na roupa e o que importa? Com quais roupas e onde, o que significa? Mas com quem? Que almas juntam a bagagem quando juntas, encara os desafios quando resolve-te a eles? Quem tem o luxo dessa companhia? Solidão. Poço fundo, escuro, soturno, lago onde não se enxerga o que há antes do fundo - muito menos o fundo.

Quem você permite? Quem te permite? Em quem você confia? Quem confia em você? Quem faz bem caminhar, unir pegadas, decidir pela mesma hora do almoço ou onde acampar? Dividir o quarto ao lado, não se importar com a televisão até altas horas da madrugada, seu mau humor diário, suas confidências estranhas. Chão frio. Banheira. Banho quente. Mente. Shampoo esfregado em movimentos circulares. Dedos ao teclado. Piano. Planos.

Toalhas de secar suor e outros fluídos. Tênis na lavanderia. Manchas, lençóis de verão, cobertores de inverno. Varandas. Cigarros, cinzeiros, quadros, papel de parede ou tinta, parquê, tábua corrida ou piso. Buraco na parede ali ou mais adiante, o que vai? Eletrônico, really? Inseticida, mais spray tsssssssssss tSSSSS até matar, não, melhor o mata-moscas. Cigarros, cinzeiro. Cinzas. Fênix. Voos. Não vou? Quem? Quem vai? Estar lá.

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