23/04/2019

aos funerais

cai o sinal virtual 
sinto o sinal da morte 
me agarra forte pelo braço 
sinto deveras uma dor no pulso
qual será o meu impulso 
para não sair hoje com a morte? 
para uns tanto azar
para outros boa sorte 
tem que estar ali disposto 
diariamente a cada imposto 
esperando uma saída 
um cochilo do porteiro 
para buscar a sobrevida 
qual será ao fim de tudo 
o derradeiro veredito
cortando a noite como um grito 
abafado no veludo 
tão esperado mas não acredito 
e não sei a quem credito
essa hora de infortúnio 
a muitos causa espanto 
para outros esse tanto é tão finito 
se pensa e esquece num só banho 
velório é tão inglório 
todos juntos num rebanho 
vagarosos nos passos e a voz em um sussurro
desafia até Saussure
entender esse conjunto
depois traz a cartilha
que tudo se esqueça
a regra é a cabeça
deixar seguir a vida
como faz pra que me desça
se a pessoa sob a terra desaparece
e ali permaneça
era aquela a prometida?
fica sob sete palmos
e a cabeça não esquece
a lembrança se entrelaça
se lança e se repete
como um filme mudo
conteúdo me remete
me identifico com tudo 
até com o que nunca acontece
absorvo a dor do mundo 
até a que não merece

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