28/04/2018

re(in)trospectivo

Juntam-se muitos eventos neste meu sábado que inicia na madrugada. Do aniversário do meu pai ao de um grande amigo que fiz. Jogos do Grêmio contra o Botafogo de meu pai e jogo do Brasil de Pelotas, que eu vou transmitir simultaneamente ao horário do Porto Alegrense. Além disso, duas formaturas, as que tenho reservadas ao mês de abril que vai se encerrando. Coisas que acontecem e se sucedem em minha vida, as formaturas aguardadas no mesmo dia, na mesma noite. Revezar entre elas, aproveitar ao máximo nenhuma, mas procurar aproveitar ao máximo a estada em cada uma. Assim é a vida, suas escolhas, renúncias e disparates do tempo.

Explanação demais sobre a minha vida. Vim tecer linhas de teimoso que sou eu, lata vazia à minha direita, coração esvaziado ao centro, com a ponta para a esquerda, é isso que dizem? Que seja. Durante a semana, dois dias antes foi o aniversário do Farroupilha da cidade de Pelotas, clube que muito bem adotei aos meus gostos e reivindicações. Tenho e prezo um carinho imenso por tal. Trajei minha camisa para percorrer as ruas do centro, sob olhares curiosos e saudosos para um jovem com a vestimenta de um dos clubes de seu miocárdio. Algum problema comigo? Creio eu que cruzei com o comentarista Caldenei Gomes, mas quando percebi que seria ele já havíamos nos despistado da calçada.

Não há rosto mais antigo impassível à camisa do Farroupilha. Recordam que já torceram por ele, ou recordam gente que torceu ou ainda torce. Recordam um pai, um tio, um amigo, um tempo remoto no estádio Nicolau Fico. Recordam um jogo que passou e abrem o baú dos fundos do raciocínio. Assim é a reação quando vista a camisa do Farroupilha nos dias atuais. Quase todos desconhecedores de ser um dia de mais um aniversário da agremiação quase centenária. 92 anos fazia, o campeão gaúcho de 1935, o maior torneio gaúcho da história, o maior estadual, o de centenário da revolução farroupilha.

Tempos difíceis ao futebol do interior. Outros apontamentos dos tempos? Oh, como de sempre faço isso. Dos cuidadores de comércios de esquinas, voluntariosos na função de cuidarem o movimento, encararem uns, cumprimentarem outros. Seguranças e porteiros. De um, de dois, de três comércios, dependendo. Juntando uns pilas no mundo atual. Uns ao celular, quase que bem distraídos.

O calor do centro foi enorme em pleno abril. Comprei uns livros, dos quais apareceu uma confusão sobre tudo que já aconteceu em Londres, um sobre o caçador dos mitológicos nórdicos Trolls e, para mim, a iniciação no universo kafkiano e mais umas ideias do tal argentino Julio Cortázar, ao que tudo indica, um dos maiores do país cisplatino.

Na compra da livraria em formato sebo, a descoberta que a outra pessoa fora o gordinho tatuado que eu nunca vi além de atrás do balcão, é a esposa ou namorada dele. Fiz o possível para evitar um contato mais próximo, embora ela insistisse a arrumar livros próximos a mim. Até a maldita da pequena escada fez questão de pegar para dificultar minhas leituras de orelhas e contracapas. Mas consegui fazer as devidas escolhas. A outra mulher que entrou na livraria parecia-me mais nova pela visão periférica e voz doce e gentil com a qual se comunicava, mas logo notei, ao me dirigir ao caixa do gordinho do balcão, que ela tinha idade mais avançada que os funcionários do local.

Assim foi a aventura de compras em uma livraria retrô utilizando uma camisa relativamente nova de um clube essencialmente retrô. Assim seguia o verão improvisado mesmo ao fim de abril, completamente fora de época. E fazia minha dedicação e preparação rumo ao sábado de acontecimentos. Sábado estando a acontecer. Com tecer. Conte ser.

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