29/09/2017

Quem Sabe?

Acordei nesse dia sem vontade de fazer coisas. Mas as ideias vieram e os textos suplicaram e imploraram ao máximo para serem escritos. Atendi-os, no fim das contas. Várias pautas me trouxeram até aqui.

Começo com uma história abreviada nas linhas que seguem. Uma casa ao lado da nossa sempre nos trouxe problemas. Nunca houve bons vizinhos. Desde as crianças mal-educadas que chegaram ao status através da mãe mal-educada, passando pelos ouvintes dos piores sertanejos possíveis após o horário de almoço até o que colocava uma máquina barulhenta que processava sabe-se lá o que nos fundos do terreno deles, fazendo com que a bugiganga funcionasse em plena madrugada. Enfim, os melhores anos de vizinhança eram com a ausência dela. O último dos ocupantes é o tema desse breve relato.

Soube-se que o senhor alto e dentro do possível esbelto era policial. Parece bom, não é mesmo? Mas pelo contrário. Ter um policial de vizinho impede que você chame a polícia em caso de erros dele. Ter um policial corrupto como vizinho decorre outras situações ainda mais desconfiantes e conflituosas.

O sujeito de meia idade está com a segunda esposa. Um filho adolescente o visitava de quando em vez. Um menor foi fruto deste segundo e vigente casamento em andamento. O garoto é uma criança, pelo incrível que pareça, mais educada pelo pai do que pela mãe. A mais nova senhora, mãe de primeira viagem e bastante mais jovem que seu cônjuge, talvez pense que seu atual matrimônio a torne dona da quadra ou autoridade elevada, a julgar pelo tom de voz e pela forma como trata as pessoas. Não pelo acaso, as formas de tratamento recaem sobre o comportamento do pequeno. Na escola infantil, sabe-se que é mau com as demais crianças e apronta das mais diversas formas por seu prevalecimento por ser um dos maiores.

Talvez pela experiência do filho anterior, o policial até é mais atencioso em relação ao caso do menino. Se pode receber a gratificação como bom pai, não é por isso que se exime de problemas do lado profissional e das carreiras alternativas. Através de contrabandos foi interceptado certa vez e a cana com os federais o deixou preso alguns meses. Apesar da volta para casa, não necessariamente serviu para afastar-se de atividades suspeitas. Pelas madrugadas no bairro, ouve-se vir e partir um carro em horário o tanto quanto curioso. Quando a avenida de acesso às casas não recebe mais do que moradores de rua - sejam cães ou humanos - o veículo encosta e não demora muito em sua ação sorrateira. A cena, audível a nós, se escuta em várias madrugadas durante a semana.

Questionamentos que ficam de como lidar com essa gente. Ao que parece, somente com o mais perfeito silêncio, quebrado em raras fofocas familiares e nesse breve texto. Assim permanecemos. Um exemplo claro de como instituições que deveriam primar pela segurança atuam de forma diferente por baixo dos panos, por trás das cortinas.

Um exemplo claro de que a corrupção atua nos mais diversos setores. Para onde vão as drogas apreendidas pela polícia? E as que são liberadas a vistas grossas pela polícia? E as que os policiais estão dentro dos esquemas? E as polícias, além de tudo, podem ajudar a escoar, a vender a mercadoria? Por que somente laranjas costumam ser presos? A polícia não tem acesso aos grandes detentores das mercadorias? Ou a polícia não quer acabar com os graúdos? Por que no Rio de Janeiro a polícia prefere subir os morros ao invés de combater a origem dos produtos? Nas fazendas e na entrada do país pelas fronteiras. Por que muitos brasileiros pensam que a corrupção se restringe aos políticos? E acreditam em intervenções de forças paramilitares? Por que estou me estendendo? Creio que nos entendemos por hoje. Não estou trabalhando com um caso raro ou exceção à regra.


Nem tudo é o que parece (Foto Retirada do Site Startupi)

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