Há muito tempo não escrevia sobre meus sonhos enquanto durmo, somente os sonhos enquanto acordado. Desta vez, recorro ao da noite passada por necessidade e para buscar evitar as inevitáveis traições da memória. Foi mais ou menos assim...
Estávamos encerrando uma transmissão de futebol que logo percebi ser um jogo paulista entre Portuguesa de Desportos e São Caetano, no estádio do Canindé, em São Paulo. Quando me deparei, estava com a equipe da rádio em uma mesa. De forma surpreendente, não tratava-se de uma cabine, mas de uma mesa de restaurante, como uma pizzaria. Com minha consciente preocupação de não falar bobagens ao microfone enquanto estamos no ar, perguntei, atônito, algumas vezes se já havíamos encerrado a programação, repassado ao plantão, coisa e tal.
Tão surpresa quanto a sequência de fatos, um de nossos componentes da equipe era meu ex-colega de escola, Pedro Ruas, que nada tem a ver com futebol ou suas transmissões. Já tomado a observar o então ambiente do restaurante, havia em volta uma estrutura extremamente chique, coisas de primeira classe, decoração, plantas, luzes amarelas que davam um ar quente ao ambiente. Tão quente quanto as impressões que a iluminação proporcionava, eram as mulheres da mesa em frente. Em um seleto grupo, estavam conscientemente vestidas para ocasião, diferente de mim que sei lá o que vestia.
Troquei olhares e me sentia incomodado/motivado com tamanha beleza. Me lembro de cutucar o amigo de escola como se recordasse de outras ocasiões a alguma ou algumas delas. Após ter me levantado, ao tentar retornar para mesa fui antecipado por uma delas, a qual me segurou pelo braço e me conduziu. Executamos uma coreografia ridícula e mal ensaiada enquanto atraíamos a atenção de todos em volta. Daí então não reparei mais nos companheiros de equipe. O último gesto destinado a eles foi um ~~será que dá~~?
Pois a líder do grupo não me conquistava ou trazia beleza que fascinasse minha razoavelmente crítica e própria opinião. Apesar disso, ela seguiu o ritual, a me conduzir para o lado de fora da noite, em uma espécie de pequeno pátio ou jardim.
Havia um gramado e a iluminação já em nada lembrava o interior chique do restaurante. Entretanto, cada vez me dava mais conta que me acercava de um verdadeiro objetivo. Apesar de inicialmente, ao relacionar o estádio do Canindé, da Portuguesa, se tratar de São Paulo, pensava que elas e eu éramos estrangeiros. Consciente de minha condição de intruso, entretanto, não as relacionava a um lugar específico, embora pensasse que poderiam ser de uma cidade mais perto de minha natal do que da distante São Paulo. Amadurecia-me a impressão da cidade da proveniência delas ser Porto Alegre.
A então capitã da procissão toda organizou me dar a oportunidade de conhecê-las e, em via disso, poder escolher (só em sonho). Enfim, a primeira que se aproxima de mim é cada vez mais evidente ser uma pessoa a quem espero e esperaria muito tempo. Nosso primeiro contato é com os lábios, um beijo extremamente quente, mais quente do que qualquer outra sensação, como quando uma comida chega ao nosso paladar com o calor tão intenso que mal deciframos o gosto.
Outra das moças está próxima e, a associando a uma amiga da primeira na vida real, que AQUI CHAMAREMOS DE A____. Peço privacidade e se ela pode se afastar. Após esse beso de meu apreço, sinto a necessidade de sanar a dúvida da origem da autora com a qual quero privacidade.
Pergunto, meio ou, melhor dizendo, completamente enrolado: "de que cidade vocês são?". Ela não entende direito, mostra a desaprovação e que não sacou a questão. Tento repetir, consigo olhar profundamente em seus olhos. Com certeza é ela! Aqui a chamaremos de P____. Tento me comunicar com ela. Trocar mais frases, dialogar, extrair mais informações, mas em vão. Tento então beijá-la novamente, mas não consigo, a odisseia chega ao fim.
Tento regressar ao momento, a língua dormente e ainda quente, a lembrança tão perfeita, clara e cristalina que quase se volta o momento, mas tudo se esvai. E a ex, vai?
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