12/09/2015

Domingo de Fla-Flu no Maracanã


"Domingo eu vou ao Maracanã. Vou torcer pro time que sou fã", dizem os versos de Neguinho da Beija-Flor, adaptados pelas torcidas locais do Rio de Janeiro. Clássico entre Flamengo e Fluminense, o popular Fla-Flu é especial por sua tão rica e mais do que centenária história. Trata-se de um enfrentamento surgido no futebol em 7 de julho de 1912, em ocasião que terminou com a vitória do Fluminense por 3 a 2.

O Fla-Flu chegou à edição de número 401 no exato domingo de 6 de setembro. Em campo, equipes com grande proximidade na tabela. O Fluminense com 33 pontos, vindo de três derrotas. Do outro lado, o Flamengo, logo atrás, com 32, vindo de três vitórias e buscando ultrapassar o rival na briga por posições no campeonato brasileiro.


O deslocamento das torcidas vem das mais distantes áreas do Rio de Janeiro. Passando o meio-dia, as camisas começam a brotar pelas ruas, como a chegada primaveril de quem desperta o sentimento de viver o domingo pelo seu clube. Descem as escadarias do metrô os com número 7, 9 e 10 às costas e que, juntos formarão o 12º jogador de cada equipe na disputa de mais um clássico.

A chegada à estação do Maracanã, passando o campus da UERJ, anuncia que a hora está próxima. Os torcedores já unidos uns com outros, antes completos desconhecidos, agora obtém alguma simpatia para com quem traja as mesmas cores.

Apesar da rivalidade, Flamengo e Fluminense dividem as linhas do trem subterrâneo. O verde e grená, do Flu, contrastante com o rubro-negro, do Fla, com ambas as cores em predominância nos vagões e nas saídas dos mesmos.

"Neeeeeense" e "Meeeeeeengo" são os gritos iniciais nos ritos de deslocamento. Nos entornos do gigante estádio em homenagem ao jornalista Mário Filho, o Maracanã recebe as caravanas dos mais distantes aficionados. Noto, ao cruzar por mim, uma camisa do Brasil de Pelotas junto aos flamenguistas.

O Fluminense, por sua vez, conta com apoio de hinchas do Velez Sarsfield, da Argentina, clube com o qual possui determinada amizade pela origem comum das cores. Um torcedor do Sampaio Corrêa do Maranhão também marca presença.

Após a revista dos seguranças, dentro das imediações, o clima é de foco no que vai acontecer logo abaixo das preenchidas tribunas. O tapete verde aguarda os 22 jogadores, representantes das massas de mais de 50 mil vozes na tarde dominical.

O primeiro tempo é de amplo domínio do Flamengo. A zaga do Fluminense bate cabeça e Emerson Sheik e Kayke aproveitam para balançar as redes ainda no primeiro quarto dos 90 minutos. Levam ao delírio os rubro-negros e dificultam a vida dos esforçados torcedores da barra Bravo 52, do Fluzão. Placar de 2 a 0 para o urubu.

No intervalo, talvez o momento mais relevante e importante socialmente dentro do espetáculo: o Fluminense, mandante da partida, anuncia o apoio aos refugiados da guerra na Síria, país do Oriente Médio. Alguns dos vindos ao Brasil aparecem no gramado como símbolos de resistência. Aos aplausos pela ação solidária e ato de humanidade, os torcedores buscam forças para o segundo tempo.

Elas realmente ressurgem. Nosso recém conhecido e já amigo David sonha alto com um roteiro épico de virada para 3 a 2. Em pênalti marcado no início da etapa final, Jean desconta para o Flu.

Mas o domingo de Fla-Flu era da primeira sílaba e o atacante Paulinho, aproveitando mais uma chance, faz 3 a 1 para os rubros, gerando, enfim, comemorações definitivas no setor norte do Maracanã.

Não é o mesmo Maracanã de Zico, mas a torcida busca manter a festa com as luzes dos celulares, recurso possível com a proibição dos sinalizadores há alguns anos. Embalados pela endiabrada atuação em campo, os torcedores do Flamengo é que encerram o domingo aos sorrisos.




Apesar da derrota doída, o Fluminense não baixa a cabeça. As rampas de saída são mais cansativas ao lado que perde, mas nenhum princípio de confusão marca a volta para casa nos arredores. Em comparação do mesmo fim de semana de clássico, por exemplo, houve agressões de corintianos contra palmeirenses que estavam dentro de uma van, em São Paulo. Barras de ferro foram utilizadas pelos que acham que assim apoiam ao Corinthians. Lamentável sinal de selvageria que persiste em rondar noticiários.

No Rio de Janeiro, ao menos, ficam as lembranças de um jogo resolvido no campo, de 55.999 torcedores presentes, de torcidas dividindo metrôs e saídas e da mensagem maior de apoio e de proteção aos refugiados da Síria.

O futebol não deve ser guerra. Mas o futebol pode ajudar a combater uma.

Fotos: Henrique König

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