05/12/2014

Moneytalks

Nem tudo precisa ser quantificado, ordenado e numerado. Umas linhas (não numeradas) sobre isso.


Moneytalks é aquela música dos australianos do ACϟDC. Parece que foi a banda para este dia, 4 de dezembro. O texto já vai sair com o marcador do dia 5, em mais uma madrugada. Escrevo para acrescentar sentido e não ser mais uma madru-nada.

Moneytalks, então vamos falar da grana, esta criatura variável em forma e conteúdo; abominável, traiçoeira e suja. Suja por si só ou pelas mãos alheias. Termino de assistir um filme e testemunho na timeline da rede social a manchete de que "familiares de vítimas da boate Kiss vão ter que pagar pela limpeza de objetos encontrados no local". Vida vale nada, né? A vida cabe dentro de um Rolex. Cabe no tempo que o relógio de marca famosa contabiliza e cabe também no valor que as pessoas atribuem a ele - o relógio.

Poucas vezes caminhei tão leve quanto em uma saída, numa chuva após uma derrota de meu time em clássico Gre-Nal. Esfriar a cabeça era a bola da vez. Saí com a roupa caseira e nada nos bolsos. Sensação de alívio, sobretudo, por nada pesar entre um passo e outro. Nada de objeto para os mal intencionados me tirarem em seus objetivos. O domingo já havia posto em 0 a escala de felicitação, no motivo que gerou a caminhada. Bola pra frente.

Outro ponto interessante é a marca dos calçados. Não ligo muito para o símbolo que os nomeia. Confortando e agradando a rápida olhada no espelho mágico = compra feita. Prefiro pensar no valor de cada passo pelas calçadas do que no valor financeiro do calçado que os praticou. Meus pés trilham a história e os sapatos são meros acompanhantes de luxo (para meus pés não se machucarem e poderem caminhar/historiar mais). Claro, acabo reconhecendo o esforço do par de sapatos também e eles adquirem significados especiais. Com o mérito da caminhada e não de sua marca.

Naquele domingo, saí também sem documentos. Quem me conhece, vai me reconhecer e, se quiser, cumprimentar. Se não conhece e for o caso, eu me apresento. Não precisa RG. Muito do que se quer saber inicialmente sobre a pessoa não passa de números, o que não explica detalhes da trajetória dela até o momento. Apenas rápidas conclusões. Como a idade, que pode revelar o que a pessoa vivenciou ou não.

Muitas das pessoas vão te ver pela primeira vez ao te identificarem por um número. Talvez o médico, na sua primeira consulta, vai apertar a mão do número 590.191, do plano de saúde Y. Quantas vezes somos o número da ficha que retiramos? No xerox, no atendimento da operadora de celular, na padaria, no açougue, na farmácia, no banco (...) Ah, os bancos... estes dariam um texto só para eles... Somos, enfim, números, cadastros, dados, senhas e códigos. Por ordem de mérito ou de chegada.

Em piores casos: na escola. A criança cresce como um número, avaliada como um número. Saldos positivos ou negativos. Somos tratados como números, e só se agrava na vida adulta. Meros números, para cima e para baixo. Pelo que acrescentamos ou podemos movimentar economicamente. Taxa de relevância. Serve também para maiores ou menores reverências gestuais em um encontro com o dentista ou com o senador, no que ainda há de humano em cada cumprimento (exagerado, ou não).

Por fim, o que se percebe é muita gente querendo abocanhar números. Abocanhar objetos, que valem mais numericamente. Tascar um pouco dos outros (com cumprimentos exagerados, puxa-saquismo, ou não). Ostentar com carros, camisas polo ou com uma adega, para mais se exibir do que beber. Quadros estranhos na parede do salão e na vida, relógios banhados em ouro que vão marcar a hora da mesma forma que os outros... Moneytalks.
 

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