02/11/2013

Os Bichos


Os bichos são tão mais evoluídos do que nós. Sabem para onde ir, como as tartarugas que abandonam o interior dos ovos na areia e já rumam ao mar. Enquanto isso, colocamos o GPS no vidro dianteiro, esperando a resposta pelo melhor caminho, com o trânsito mais livre, com o tráfego mais leve.
Eles sabem a época certa para acasalar e reproduzir, enquanto vivemos em meio ao impasse de anticoncepcionais, estabilidade financeira, pessoa certa... Uma bateria de exames para isentar a possibilidade de doenças no par. Talvez, lá pelos 36 ou 37, depois do doutorado, antes da menopausa, pensar em deixar descendentes. Sabem onde achar alimento, enquanto calculamos o aumento da inflação em produtos, acumulamos sacolas de supermercado e reclamamos que o restaurante tal anda abusando nos preços.
A vida deles, seja qual for o ciclo, pode-se dizer que é intensa. Um predador pode encerrar a passagem vital a qualquer momento, em qualquer dia. Leis da natureza. Enquanto isso, somos assombrados e corroídos diariamente por diversos predadores. Entre eles, contas a pagar, os juros do banco, a dificuldade em manter nosso ninho protegido e com estoque de alimento, em manter o status profissional. Sem falar nos predadores armados da nossa própria espécie.
Os bichos sabem a previsão do tempo sem olhar o jornal das 8 ou instalar aplicativo no desktop. Saem sem precisar combinar a roupa. Se for para alguns fins, já nascem as penas do pavão ou a garra desproporcionalmente grande do caranguejo. Eles não compram pela internet e assim não sofrem golpes virtuais, e assim não fazem boletim de ocorrência, e assim não resmungam sobre a demora da Justiça.
Talvez os bichos não sejam tão inteligentes. Como somos muito compartilhadores, permitimos que eles confundam nossos restos de embalagens com o alimento que procuravam. Outro erro nosso.

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