Os bichos são tão mais evoluídos do que nós.
Sabem para onde ir, como as tartarugas que abandonam o interior dos ovos na
areia e já rumam ao mar. Enquanto isso, colocamos o GPS no vidro dianteiro,
esperando a resposta pelo melhor caminho, com o trânsito mais livre, com o
tráfego mais leve.
Eles sabem a época certa para acasalar e
reproduzir, enquanto vivemos em meio ao impasse de anticoncepcionais,
estabilidade financeira, pessoa certa... Uma bateria de exames para isentar a
possibilidade de doenças no par. Talvez, lá pelos 36 ou 37, depois do
doutorado, antes da menopausa, pensar em deixar descendentes. Sabem onde achar
alimento, enquanto calculamos o aumento da inflação em produtos, acumulamos
sacolas de supermercado e reclamamos que o restaurante tal anda abusando nos
preços.
A vida deles, seja qual for o ciclo, pode-se
dizer que é intensa. Um predador pode encerrar a passagem vital a qualquer
momento, em qualquer dia. Leis da natureza. Enquanto isso, somos assombrados e
corroídos diariamente por diversos predadores. Entre eles, contas a pagar, os
juros do banco, a dificuldade em manter nosso ninho protegido e com estoque de
alimento, em manter o status profissional. Sem falar nos predadores armados da
nossa própria espécie.
Os bichos sabem a previsão do tempo sem olhar o
jornal das 8 ou instalar aplicativo no desktop. Saem sem precisar combinar a
roupa. Se for para alguns fins, já nascem as penas do pavão ou a garra
desproporcionalmente grande do caranguejo. Eles não compram pela internet e
assim não sofrem golpes virtuais, e assim não fazem boletim de ocorrência, e
assim não resmungam sobre a demora da Justiça.
Talvez os bichos não sejam tão inteligentes. Como
somos muito compartilhadores, permitimos que eles confundam nossos restos de
embalagens com o alimento que procuravam. Outro erro nosso.
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