02/05/2025

De Jueves a Domingo (2012)

Primeiro filme da chilena 🇨🇱 Dominga Sotomayor, uma diretora já conhecida por sua alta sensibilidade em dramas lentos. São mais lentos do que a maioria das pessoas tolera, o que confere status Cult. A pré-adolescente Lucía viaja com seus pais para um fim de semana estendido, perfeitamente como se fosse este em que escrevo, entre o 1⁰ de maio dos trabalhadores e o fim de semana.

Ela tem um irmão mais novo e consideravelmente pentelho, Manuel. Seus pais iniciam a viagem no que parece mais um fim de semana familiar qualquer. O filme mescla tons de comédia com o drama infantil, mas sobretudo perpassa uma nostalgia de nossas infâncias. A identificação criada com a película é muito por conta das viagens de carro que eu mesmo presenciei ao longo da vida. Meu pai mais descontraído ao volante, minha mãe mais preocupada ao lado dele, como Ana se preocupava superprotetora ao filho Manuel. Minha irmã sendo mais velha, eu o mais novo. Dominga prepara uma direção sensível no filme, onde as respostas sempre se apresentam nos detalhes e sutilezas para o atento espectador. Ou para própria Lucía, observadora das conversas adultas.

Lucía desvenda os mistérios daquela viagem. Percebe o clima de apreensão entre o casal. Uma carona às jovens de recém completados 18 anos, causando incômodo na imagem da mãe, que logo reforça seus cremes faciais. Uma acusação sobre a empregada roubar joias, uma conversa sobre alugar um apartamento. Uma lembrança de infância do pai sobre aquela região do Chile quando tinha 7 anos, mesma idade do pequeno Manuel.

Brincadeiras de um amadurecimento, de Lucía herdar um terreno há muito não visto, sobre sua curiosidade para aprender a dirigir. Uma menina curiosa que nota as mudanças de comportamento de seus pais. O pai que atola o carro num trecho de riacho. Recebe ajuda de outrem. A mãe que conversa ao pé de ouvido com um amigo com o qual se encontra na estrada. As crianças, Manuel e o filho do amigo, brincam à parte desses acontecimentos mais sérios. Mais velha, Lucía não passa despercebida pela guinada na história.

A tensão final em uma conversa que dá a entender que o amigo apenas consolaria a mãe chamada Ana. O findar do casal então não parecia assim definitivo. Ela se desespera ao saber que o marido já havia alugado um apartamento (com a intenção deixa-los? Ao menos assim interpretei). Desesperada pela informação bombástica, Ana começa a caminhar sem rumo, fugidia no deserto chileno. Para quem o drama considerar muita água e demasiado açúcar, lágrimas de nostalgia, se não brotadas, ao menos informadas pela fábrica de que poderiam, na meteorologia dos olhos, cair. Para quem achar muita água com açúcar, a distração com as paisagens chilenas de retirar o fôlego são uma pedida. Manuel insistia, inconsolado, pela praia, mas as montanhas, a estrada, o mato e o deserto estão de bom tamanho. Um drama de amadurecimento infantil em que nos vemos em Lucía, seja por lembrança de idade, perspicácia, aventura, reflexões. Uma afeição construída pela centrada diretora sensível, seja autobiográfico ou não, o que pouco nos interessa à essa altura, espelhada e espalhada a imagem com o toque da empatia. 

Nota final: 4,5 / 5

 
Atenta aos fatos, Lucía percebe a separação de seus pais, em imagem no deserto em que a sensibilidade do jogo de câmera constrói a semi-ótica da cena: um para cada lado (Reprodução / De Jueves a Domingo, 2012)




Nenhum comentário:

Postar um comentário