26/04/2025

Pampa de teus olhos não me poupam

Queria interromper nunca o último café que tivemos. Sei que pra você nem foi o momento mais importante de atarefado dia, mas pra mim foi um momento que sinto dos mais importantes da minha vida. Às vezes me irrita e desencanta sua indiferença. Tenho que aquecer sempre água para dois e pelos dois.

Desculpe minha paixão assim tão repentina. Assisti a muitos filmes. Mas o que tem? Você também assistiu. Me desencanta que nossos filmes não coincidam o mesmo. Na vida tudo se resume e se dissolve a melhores momentos. Os meus não são os teus. Não são os nossos.

Iria ao mesmo café e pediria o mesmo que o teu infinitas vezes para reviver ou ao menos relembrar. Manter a boca do fogo acesa. Mas se  não queimei a boca em café, queimei meu nome no estabelecimento. Sou tão idiota que você nem imagina. Ou imagina e por isso se distancia. Mas nos entendíamos tão bem. Será que busco uma palavra sua para confirmar o porquê é não? E nenhum buquê e nenhum sermão resolvem. Será que eu quero ouvir suas palavras definitivas para poder mexer meus lábios de forma estranha, suspendê-los em meio a gesto incompleto? Inaceitando. Gesto labial como seguido fazia William Hurt nos filmes de nossos diretores favoritos. O seu diretor, a minha diretora belga, os nossos.

Desculpe confundir pronome tu com você, o que é teu, o que é seu, o que seria nosso. Desculpe confundir nenhuma outra contigo. A profundeza de seus olhos venceria a profundidade de todos aqueles copos descartáveis jogados ao lixo de um café. A profundeza de seus olhos me convidaria a infinitas sessões. A uma única seção: seus olhos. Olhar, sem cessar. Seus olhos talvez foram o que mais belo eu vi de tão perto. O café, a boca, queríamos um tanto mais. Queríamos eu e minha boca, exagerados. Eu e meus gestos, exagerados. Eu e meus exageros, que formam eu. Eu que firmaria meu nome ao teu. Sim, sim. Sim! Eu que formaria um nome: o nosso. Eu que me apaixonei por ti quando te vi me vendo. Quando te vi. De perto. Quando te ouvi: dizendo. Quando te perdi: deserto. Quando te revia em imaginação: incerto. Quando um dia irei me despedir de ti ainda sem desapaixonar: honesto.

Tu dizes que infinito é o pampa ou a sampa falsa de concreto. Infinitos são teus olhos e minha cólera longe deles. O cinema não acabou. A poesia não acabou. O amor que eu queria te dar não acabou. Quer mais café?

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