03/12/2020

Só a luz no fim do túnel para nos salvar do invisível

Quem já teve o privilégio ou sacrifício (ou mesmo sacrilégio!) de conversar comigo sabe como gosto de alterar (e alternar) os assuntos rapidamente. Uma troca de marchas sem pisar na embreagem, uma arrancada rumo a outro pensamento sem ligar a seta para o lado que estamos nos deslocando. Eu troco constantemente de assunto e arrisquei minutos antes a propor alguns tópicos para a discussão de hoje.

A ideia, esse conceito abstrato de pandemia ao qual vamos nos adaptando em 2020 me traz em dezembro definições entre as tantas indefinições que estamos vivendo. Seguidamente em casa, com a minha família, debatemos sobre as incertezas do personagem do ano, o - novo - coronavírus. Invisível a olho nu, microscópico e somente podendo ser visualizado através daqueles microscópios eletrônicos, das últimas gerações científicas. Ou seja, nada de saber onde ele está, pelas superfícies, produtos de supermercados e armazéns, corrimãos, bancos de praça, frutas e demais artigos de feiras, obras de arte, mãos amigas, mãos inimigas, mãos desconhecidas, nossos próprios parentes. No ar. Não sabemos onde o coronavírus está.

Depois, outro debate que temos seguidamente em casa é sobre os sintomas. A incerteza de quais os sintomas gerados por essa doença nova, a covid-19, em adultos e crianças. Na semana, o que tem chamado atenção da mídia é a possibilidade da covid causar posteriormente uma síndrome inflamatória multissistêmica. E a mortalidade dela, que tem sido comum em crianças e jovens em geral, é maior do que a taxa da covid-19. Isso desperta a revolta de professores e familiares quanto à abertura das escolas, determinada em portarias pelos estados de nosso Brasil. Para completar a confusão, o Ministério da Educação ainda assinou pela volta das universidades a partir da virada do ano, no primeiro andar do janeiro de 2021. Os reitores são totalmente contrários e classificam incluso como absurda a decisão governamental.

Estava falando dos sintomas biológicos e intrometi o diabo da política. Queria me referir à incerteza dos sintomas provocados pela covid-19. A paranoia dessa pandemia nos faz pensar que qualquer dor pode sim ser a doença. E devemos tomar todos os cuidados para não estarmos com ela em sintomas brandos e acabarmos infectando outras pessoas. Um problemão. Problemas na garganta, difculdades respiratórias, dores de cabeça, a dor no corpo que tive no início da pandemia e que não sabemos o que pode ter ocasionado, eu que nunca tive dor no corpo anteriormente. Mas era recém o começo da pandemia, os casos na cidade eram abaixo dos 500 (no nosso universo de mais de 300 mil pessoas), eu já não saía de casa desde o cancelamento das aulas da universidade, fazendo meu trabalho em home office. A possibilidade de eu ter sido atingido pela pandemia global era diminuta. Mas não impossível, portanto não sabemos.

Ok, caso eu tenha tido, ou meus pais tenham tido, ou minha irmã, que chegou a realizar teste por apresentar sintomas, mas obteve resultado negativo, caso ela tenha tido, ainda existe o raio da possibilidade da reinfecção. Possuir a doença, curar-se, isso não te livra de readquiri-la, ou seja, mais pitadas de paranoia na nossa conturbada receita. Inclusive, na carência de estudos mais detalhados acerca de tão nova doença, alguns companheiros haviam questionado sobre a taxa de reinfecção no Brasil parecer bastante alta em relação ao que se comenta e se traz de notícias de outras partes do mundo. Ou seja, além do Brasil ser um dos países com maiores taxas de contaminação, com a ainda segunda maior mortalidade do mundo (deve ser ultrapassado em seguida pela Índia), ainda convivemos com a possibilidade de, mesmo se livrando da doença uma vez, pegarmos novamente a dita cuja.

Como não sabemos onde está o coronavírus, não temos a garantia de encontros em segurança com parentes, amigos, nem demais encontros afetivos. A possibilidade de respirar o vírus, emergido por meio da fala, da saliva, impossibilita essas reuniões presenciais. Ao menos manteremos essa logística para o mês com a chegada das festas de final de ano. Seremos apenas nós os quatro em casa e os demais familiares em suas residências (e resistências). Em meu círculo de familiares, obtiveram a doença minha prima, após muitos testes negativos e com sequelas graves, as quais ela segue combatendo, meu padrinho, irmão da mesma prima, mas que foi confirmado com a doença tempos depois, por alguma saída ou mesmo no serviço presencial que ele continuou executando na central de alarmes para casas ou veículos automotivos. E para completar as ameaças à minha avó, matriarca hoje da família aos 87 anos, a vizinha de prédio delas, justamente a responsável por um dia alugarem endereço no final do centro, a Dona F. acabou adquirindo a doença e passou pelo período de total isolamento, tendo se recuperado, apesar de sua idade considerável para torná-la grupo de risco e demais doenças que poderiam acometê-la. O pior é que terminar esse longo parágrafo em nada nos submete a garantia de que o pior, antes das vacinas devidamente virem, principalmente para nossos velhos de grupo de risco, nada garante que o pior já tenha sido ultrapassado. Tanto minha prima segue em recuperação de seus sintomas e debilidades mais graves, quanto a cada dia, a cada semana, a cada mês voltamos às atenções à luta para não cruzar com o vírus sem eliminá-lo por meio do álcool em gel ou da lavagem muito bem executada com sabão neutro e água corrente.

Alheio e ao mesmo tempo intrínseco a isso temos nossas batalhas psicológicas, nossa relação com o distanciamento e isolamento sociais. Nosso afastamento de procedimentos rotineiros, cotidianos que gostaríamos de realizar. Pessoas que gostaríamos de rever, outras que gostaríamos de conhecer, atividades físicas negligenciadas pelo risco de contaminação, como nos desportos coletivos, nos passeios em grupo, nas festas, nos cortejos de formaturas, aniversários e outras realizações. Tudo isso em que estamos impedidos. A espera pela vacina dita o ritmo dos próximos passos e, retomando rapidamente o despertar político que ora me surgiu, que Ministério genocida nenhum intervenha no que hoje seria uma vitória calamitosa em favor do vírus. Sigamos em nossas batalhas, unidos pelo distanciamento até que a luz do fim do túnel seja uma agulha em nossos braços com princípios ativos corretos pela imunidade comprovada. Até lá, continuaremos nos esbarrando nesses assuntos e desviando deles com distrações que nos façam bem. Exatamente agora me deu saudade de perder no Scrabble pra ela.

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