Passeando pelo Google Street View e descobrindo algumas das cidades mais famosas do mundo nos Estados Unidos. Entre as impressões que me chegam está a de que lá tudo é muito distante para desenvolver caminhadas. São cidades planejadas para os carros. Ruas largas e impecavelmente asfaltadas, mesmo os becos ou desvios para lugar nenhum: há por lá o asfalto, o tapete ao desfile das quatro rodas de cada um.
Os cenários urbanos se desenvolvem nesse sentido. A horizontalidade de cidades segue esse guia de vias que no Brasil incentivariam os mais perigosos rachas. Não à toa roda-se e desperta-se o desejo de sagas como Velozes e Furiosos. Cada cidade por lá apresenta características adequadas para o exibicionismo da alta velocidade e tecnologia automotora.
No meu cenário muito mais pedestre e transeunte, imagino o forte calor dessa quantidade asfáltica. Noto a presença das calçadas e de terrenos baldios ou desocupados de imóveis também repletos de concreto. Há árvores nessas cidades mais sulistas, mas são vegetações mais baixas e características dos desertos, ou seja, a sombra não é convidativa. Chega a causar inveja aos sertões do Nordeste de brasilis, descritos pelo carioca Euclides da Cunha.
Lá nos EUA pode-se iniciar a vida de condutor mais cedo do que no Brasil, em licença para dirigir logo aos 16 anos. Um carro para cima e para baixo em direção aos fast foods, lojas, hotéis, festas e diferentes paisagens. O país que, antes colônia da Inglaterra e pós esse processo colonizou quase que o mundo todo, exporta esse meio de sonhos de consumo e de formas de administrar cidades. Com o calor dos asfaltos, com o incentivo de vendas mais baratas de carros e combustíveis, a carta para dirigir retirada na adolescência, a publicidade e outros estabelecimentos como as vendas de comida em lanches fazem os Estados Unidos brigarem contra a balança. Se o braço forte do capitalismo vence e coloca qualquer braço oponente direto na lona nas quedas, a balança mostra panorama da luta do país contra o sobrepeso de sua população. Perspectiva preocupante.
Outro ponto que me chamou atenção foi da situação da rica Califórnia, sozinha maior do que o PIB de quase todos os países do mundo e maior do que o PIB de uns quantos somados juntos, aglutinados; essa Califórnia que é fronteiriça com o México, ainda sem a oficialização de um muro trumpeano, mas que revela problemas que nos passam despercebidos sobre as crueldades das garras capitalistas. Ali em fronteira com essa Califórnia está a deepweb, está a obscuridade, o poder do tráfico. A cidade de Tijuana lidera ranking de 2018 sobre o atlas da violência mundial, atualizando homicídios. O México vive maus dias no combate ao teor violento de suas gangues e domínios de pontos. Uma rápida passada pelas ruas de Tijuana deixa claro como o sistema funciona por lá. Pichações que indicam a quem pertence a área e costumeiras casas como as que aparecem nos filmes dos lugares mais desérticos e áridos dos EUA, ou da própria fronteira ou lado mexicano. Possíveis bocas ou pontos de traficar, lugares suspeitos, casas apertadas, ruas hostis. Mesmo assim se distribui novamente o foco inicial que trouxe aqui, o asfalto como meio de escape. Bom para transportar droga ou fugir em perseguições, como a vida imita a arte; a ficção na realidade. Seja de Tijuana ou de outra cidade de comum geografia, espanta a proximidade com os estilos de vida badalados das conhecidas San Diego, Los Angeles, San Francisco e outras potências turísticas e atrativas da milionária Califórnia. Subúrbios a eles; trevas ao lado da ostentação. A própria megalomaníaca gigantesca cidade de Los Angeles convive com isso, os infortúnios da presença de gangues, migrantes, comércios ilegais, violência e crime, trabalhos a IML na calada da noite, vizinhos que nada sabem e nada viram.
Entre milhões de views e milhões de ninguém viu.
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