25/07/2022

Violência 1x0 Esporte

Produzo o jornalismo local do esporte para o segundo jornal da região. Visto que a vizinha cidade de Rio Grande também fechou seus departamentos impressos, Pelotas concentra os jornais mais afamados do extremo sul. Com muita tristeza, além de meu deteriorado estado físico, produzi a página para terça-feira, 26 de julho de 2022. Não temos mais edição impressa de domingo para segunda-feira, de modo que as informações do fim de semana concentram-se em nosso cardápio apenas para edição de terça. Vamos ao que ocorreu. Os dois times locais em campo perderam. O Grêmio Esportivo Brasil praticamente deu adeus para Série C. Precisa de 100% de aproveitamento nas últimas três rodadas para manter-se vivo na terceira divisão nacional e não se preocupar em ter onde cair morto. O Farroupilha, por sua vez, jogou a primeira em casa no estádio Nicolau Fico e perdeu a primeira em casa, ao ser superado pelo Riograndense por 2x1, com o gol da vitória, que desequilibrou o Grupo da competição contra o Farrapo, marcado aos 48 minutos do segundo tempo. Com o resultado, o Fantasma tem um ponto em três jogos e um Grupo com quatro equipes que duelam em turno e returno, dentro e fora. Passada metade das partidas, nenhuma vitória e a necessidade, também, de algo próximo aos 100% de aproveitamento nos jogos que restam. Praticamente sem chance.

Dados os apitos finais ou do lado de fora ou ainda do lado de dentro dos gramados, os motivos que completam a melancolia. O Farroupilha em briga campal, como se fossem garotos de rua brigando. Chutes, socos, violência gratuito aos olhos das crianças ou idosos que foram ao estádio. O Farroupilha quase não tem mais torcedores. Eles encolhem em número a cada ano. Muitos dos mais idosos já faleceram, ainda mais agora com a situação de pandemia da Covid-19. Outras, as crianças, dificilmente serão capitaneadas a torcer para um clube de Terceira Divisão Gaúcha. Ver a equipe perder em campo já atinge, demonstrar violência gratuita acresce em nada. Tristeza marca o fim de semana no estádio Nicolau Fico no bairro Fragata. Detalhes ainda que somente eu percebo. O patrocínio no centro da histórica camisa tricolor é um desenho animado. Como combina o desenho animado (uma raposa ou animal assim?) com as cenas de brutalidade entre os atletas. Uma imagem que poderia acrescer leveza ao ambiente contrasta com os socos e chutes trocados pelos ditos atletas. O Farroupilha perdido no futebol e eticamente.

No Xavante, a única diferença é o nível da competição. Joga a terceira divisão nacional, mas o vexame se repete. Jogou em casa e diante de um público histórico, acima das 8 mil pessoas. Não sei se tão histórico, mas mediante a diminuição da capacidade dos estádios, a falta de procura dos torcedores aos jogos, foi sim um público histórico, contextualizado pela situação na tabela de classificação. O Brasil era (e ainda é) o último colocado na competição. Ficou com 14 pontos através de 16 jogos disputados. Nos últimos três precisa de um aproveitamento de campeão. De lanterna a campeão, penso aqui que pode se tornar uma manchete caso milagres aconteçam.

Após a derrota em campo, onde até houve polêmico, mas definitivos acertos de arbitragem, um pênalti bem marcado no primeiro tempo e um gol bem validado para Aparecidense no segundo, a confusão decorreu na saída do improvisado túnel visitante. E novamente chamo atenção para cena que poderia acrescer alguma leveza e sai justamente o tiro pela culatra, a situação pela tangente. O túnel inflável encobriu imagens da briga entre atletas e comissão técnica. Como se não bastasse, torcedores organizados adentraram com suas jaquetas e calças brancas, roupas que para alguns permanecem na moda. A cena dantesca desta vez foi corretamente estancada pelos seguranças mas principalmente pela Brigada Militar. A mesma Brigada Militar, em outros batalhões evidentemente, que atacou gratuitamente o rapaz Rai Duarte em Porto Alegre, após a partida entre São José e Brasil pelotense pelo mesmo campeonato. Rai Duarte foi retirado de dentro do seu ônibus, foi levado pelas mãos militares, por essas mãos foi covardemente agredido. Desta vez, nenhum torcedor que estava dentro de campo detinha a razão.

Eis que o Brasil na mesma Série C teve casos de briga entre torcidas, com o São José, em Porto Alegre, denúncia de caso de racismo por parte de um lateral, Zé Carlos, do Atlético Cearense (e pasmem, em jogo que o Brasil ganhou de goleada, qual a necessidade se ocorreu isso?), e finalmente o caso da briga após o jogo com Aparecidense, com o mau exemplo vindo institucional de empregados do clube até o torcedor que, num volume de mais de 8 mil torcedores em torcida do interior, era evidente que alguma situação ruim poderia ser gerada a partir da derrota, da confirmação da lanterna na rodada e, pelo calor do momento, a insatisfação com o rendimento e a derrota.

Me atento ao caso do sofrido e quase falecido na ocasião Rai Duarte. Não participou de briga, mas só foi vistoriado o ônibus pelos incidentes anteriores. Só foi confrontado em função do que outros provocaram antes. Óbvio, mas óbvio, torcedor, que a polícia não tem um pingo de razão nisso tudo. Não tem. Nunca teve. Jamais vai ter. Mas Rai foi vítima da sequência dos fatos e sobrou para ele. Não adiantam campanhas pela paz nos estádios, faixas, balões brancos e frases bonitas, cartazes e campanhas de conscientização se jogos depois não houver o exemplo sendo seguido. As campanhas e as frases mergulham num abismo e são soterradas. É para torcida, para sociedade entender que não pode abrir precedentes, não pode dar margem, tem que fugir dessas temáticas, diminuir as margens errôneas. A polícia é truculenta e logo pode ocorrer um novo caso. Pode sobrar para quem fez algo, o que é mais comum, ou pode sobrar para um inocente vimitado pela violência que nos cerca. Termino essas linhas em reflexão e apenas tentando me livrar da tristeza que me somatizou durante o dia. Respira também por aparelhos o esporte e a ética na cidade pelotense.


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