Vim para o blog refletindo sobre o gosto pela minha vida ao me deparar com essas diferentes personagens em Beleza Americana, filme de 1999. Há questionamentos sobre capitalismo, materialismo, tratamentos destinados à família, falsas famílias, o que seria, de fato constituir família, o que seria, de fato, obter um relacionamento vindouro. Estar junto, participar, fazer parte, fazer o seu melhor por você ou por quem está contigo.
Repenso muito minhas condições trabalhistas e onde posso atuar. E onde eu posso me encaixar. E como eu posso sobreviver sem depender de meus pais, que com certeza são as criaturas que mais gosto no planeta. Porque eles me permitem conforto e estar confortável é o que de melhor anseio nesta vida, porque o desconforto é quase regra. Estamos sempre submetidos a procurar alimentação, e procurar confortos, e trabalhar para desfrutar de descansos. E graças aos meus pais passo boa parte da minha desfrutando ou me dedicando a conhecimentos, a obras de arte, à filosofia. Isso é ótimo.
Sou muito grato por eles. Muito grato mesmo. Mesmo que nem sempre nos entendamos. Me deram toda a base para o que eu pudesse alcançar com minhas forças, que me preocupam serem poucas. O futuro é nebuloso e incerto, mas o de quem não é? Pretendo aproveitar o máximo que me forneceram de base e de sustento até aqui para expandir-me futuramente.
Penso neste exato momento, enquanto dedilho, que não odeio tanto a minha vida, a posição que ocupo, o que tenho feito, o que tenho passado, onde estou e onde eu posso estar. O mundo dos desconfortos me proporciona, ainda, uma posição privilegiada pela sobrevivência. Sinto que preciso aproveitá-la de alguma forma. Sinto que preciso transmitir meus conhecimentos, meus recados, minhas inquietações, minhas fraquezas compartilhadas, meu ombro amigo, minhas escritas, o que eu puder deixar, porque gosto muito de ajudar pessoas e encontro poucos modos que não estes.
A perspectiva de um dos personagens por encontrar a beleza em Beleza Americana, em um saco plástico aleatoriamente aos contornos sugeridos pelo vento, a efemeridade da vida, as ruas como elas são, as pessoas como elas são, as famílias como elas são. Tudo é muito sugestionável de como podemos encarar as coisas por diferentes óticas. A percepção é importante, faz parte da instrumentação para a mudarmos a realidade. Somente é possível melhorar, mudar algo com a devida percepção do que ocorre. As condições precárias existentes que nos cercam e a partir disso ao menos questionar o que podemos fazer. Nos cobrar por agir.
Um filme sul-coreano chamado "Em Chamas", em determinado momento, exibe um ponto de vista vindo de provérbio africano. Para um povo, talvez na região do Quênia, existem duas fomes. A pequena fome, que é a busca direta por alimentos. E a grande fome, que é a busca por conhecimento. Enquanto muitos tentam combater a primeira fome, a pequena fome, saciar o organismo, existe a grande fome, a tentativa de alimentar o espírito, a alma, tentar uma elevação, uma altivez que, no meu caso, na minha ótica, seria a de ajudar muita gente também. Ajudar espiritualmente, fomentar projetos, ensino, possibilidades de subidas para aqueles e aquelas que estão ao nosso alcance.
Pretendo me aperfeiçoar no ensino de conteúdos de língua portuguesa e espanhola, procurar alguma estabilidade nesse sentido e, quanto ao jornalismo, talvez - grifado o talvez - livrar-me da área de jornalismo esportivo para rumar a projetos mais contundentes com a nossa sociedade. Mídias alternativas, como bem colocou em mensagens ontem o amigo Fred Mayer. Jornalismo que ouça mais vozes, que elimine invisibilidades sociais, que traga conteúdo e representatividade para quem mais precisa. Ir além dos resultados ou análises táticas do futebol masculino. Ou mesmo partindo para outras modalidades esportivas, perceber que praticantes de rally, tênis, golfe ou natação possuem o necessário, recursos para desenvolver suas atividades. Geralmente possuem outros empregos. Não vivem disso. Então, os projetos voltados à periferia seriam de maior interesse. Educar jovens, formar cidadãos. Amar e mudar as coisas, certo, Belchior?
Notas de rodapé: durante o filme Beleza Americana, enquanto algumas personagens surtavam, principalmente a mãe da garota, uma viciada em trabalho e ambiciosa capitalista, parei para pensar que não desejo exatamente o "mal" para essa gente. Não gosto de vê-las estressadas. Não gosto que essa gente sofra. Não sou punitivista. Definitivamente não sou. Torço muito pelo encontro da vacina para o novo coronavírus.
Que situação inédita! Uma pandemia com tecnologia. Na gripe espanhola de predominância e muitas e muitas mortes em 1918, mal havia sido criado o rádio. Agora temos todas essas tecnologias. Transmissões em vídeos, chamadas gravadas, webradios, aulas online. Aplicativos. Compras pela internet. O mundo conectado. Notícias internacionais em tempo real. Quanta mudança em um século...
Não torço pelo mal das pessoas, mesmo desgostando das atitudes da maioria. Repito: não sou punitivista.
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