25/12/2019

rupturas e cordas bambas

Obviamente a psicologia não se desenvolve caso a caso de forma isolada. Da movimentação de casos para a observação de ocorrências, repetições, aproximações e padrões, se encurtam os caminhos para sanar o estado dos pacientes. É a busca de se entender e o porquê de agir de determinada forma.

Frisado isso, há textos que procuram entender as formas e os tipos de comportamentos, mapeando as tendências e facilitando a monitoria. Ainda se estudam os casos, as pessoas não se tornaram números, mas o que não impede classificações, que, abalizadas, podem ajudar e muito.

Não trabalho com isso, mas a observação de textos e métodos, inclusive repassados para pacientes, me possibilita aplicar isso em breve autoanálise. Se procura um tratamento completo, a indicação é da procura de um profissional da área. Aqui apenas esboço onde me situo.

No que se considera uma personalidade não-assertiva, preencho cartelas de bingo e me identifico em vários pontos. O perfil conciliador, que evita brigas, prefere refugiar-se do que a assistir as exibições monótonas e desinteressantes da espécie, convivendo seguidamente com o tédio não nas atividades solitárias, mas em grupo. A insegurança sobre o próprio ser, que pode até se considerar altivo e atrativo em determinados pontos e práticas, mas que passa a notar e relatar o desinteresse alheio e evitar contato.

Desenvolver-se em atividades solitárias requer outras pautas como gostos extravagantes ou distintos ou mesmo o desinteresse pelo que as demais pessoas têm se interessado. Uma faca de dois gumes que mantém a inércia a meu lado e o dinamismo na face oposta do quintal.

O estado solitário apresenta essa via cruzada, no estar bem consigo mesmo estando só pelo desempenho de atividades como esta, da escrita, além de leitura e assistir a programações televisivas, como filmes, os quais gosto. Ao mesmo tempo existe um incômodo próprio de sentir-se exclusivo, no sentido excludente, das atividades de interação humana. Meu relato ao passar o dia no quarto em 25 de dezembro leva a crer que esse ponto está em seu ápice para a ebulição.

E para além da fincada da agulha, dessa ponta solta que nos entristece por si sós (e a sós), sem a interferência direta de terceiros, estes terceiros surgem no intrometimento para que sejas carregado ao zelo da interação e atuações. Todavia, é uma relação em ruptura. O seu isolamento causa a ruptura no andamento harmônico das relações sociais. Ao menos harmônico para quem não nota as incongruências e hipocrisias hora após hora no cotidiano. E se o seu isolamento causa essa fenda por onde se esvai o bem estar social, por sua vez a sua volta à condição de interacionista causa uma ruptura na zona de conforto do isolamento. Essa via, em resumo, é de rupturas e o perfil não-assertivo, o nosso em questão, tende a satisfazer o gosto de terceiros desempenhando atividades, saídas, escolhas que não lhe condizem com o gosto, mas, para evitar maiores conflitos e desgostos em terceiros, aceita-os.

Mas essa condição não-assertiva, como o armazenamento de um aspirador de pó, o filtro de um ar condicionado ou outros filtros, acaba tendo um limite. Aguentar muito essas programações forçadas e desgostosas para a pessoa acumula um mal estar interno. Não por acaso o texto do "Manual de Avaliações e Treinamento das Habilidades Sociais" cita que pessoas do perfil não-assertiva apresentam tendência a desenvolver chagas como úlceras e descontroladas irritabilidades quando finalmente alcançam a zona limite pós-acumulações.

Exercícios de ir aos poucos, como algumas pessoas gostam para se acostumar à água das piscinas, podem ser apaziguadores no caso. Aceitar e controlar a proposta de dizer "não". Porque é de conhecimento que caso tu cedas sempre por não dizer "não", as pessoas arrancam-lhe não somente a mão como o braço e até onde for possível. São zumbis devoradores. É preciso equilibrar-se nessa corda bamba entre topar sua zona de conforto, restauradora de energia, absolutamente necessária a nossos perfis que não aguentam, não suportam, detestam a interação consecutiva, e também não arrebentar completamente o elo social necessário por interesses de sobrevivência, desde alimentação e estendidos a demais serviços terceirizados, como saúde, limpeza e trabalhos manuais.

O diabo do respeito, essa figura difícil de ser atingir e fazer com que os outros atinjam, é um ponto crucial. Entender que o seu corpo e sua mente precisam de resguardo das atividades que custam paciência, requerem esforço e interações demasiado desgastantes, ao passo que não se deve, não se pode obter êxito em total recolhimento antissocial, na perda de contatos e na ruptura definitiva com as demais pessoas que, inconscientemente, sem perceber, talvez queiram o bem, mas sejam praticantes dessas queimaduras de diferentes graus e chagas mais profundas. Estejamos alertas na procura pelo relaxamento. E às vezes relaxados na zona de estar sempre alerta.

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