O sonho talvez ganhe requintes e brilhos por se tratar de uma competição arquitetada como sub-23. Apenas três atletas acima da faixa etária podem ser inscritos por cada agremiação. Compreendendo isso, muitos vão ter a oportunidade de mostrar serviço em uma competição de pífio acompanhamento midiático, mas de interesse de alguns olheiros de vitrines maiores, que irão percorrer os nefastos gramados sul-rio-grandenses.
Na cabeça dos torcedores, nossos personagens principais e que realmente acalentam um determinado charme ao certame, está o heroico compromisso de carregar a bandeira nas mãos e o símbolo na segunda pele sobre o coração, na tentativa de trilhar o caminho das pedras até o caneco. Todos acreditam e sonham com a primeira divisão, o patamar máximo já atingido por alguns, mais recentemente ou há décadas atrás. Turva é a jornada para chegar até o santuário, onde muitos se esbarram e muitos se embarram para pouca efetividade.
A terceira divisão afasta o sonho das contratações melhores, dos jogos em melhor nível e com melhor público. Ao contrário das vantagens da elite, existe a morbidez de estar próximo ao juízo final. As trevas e o receio de fechar as portas estão sempre presentes, como inimigas do sono tranquilo e da paz com o travesseiro.
Hoje, temos uma divisão de acesso com 15 clubes confirmados. A terceira divisão, por sua vez, traz 13 agremiações. Eu preferiria uma divisão de acesso mais acolhedora, com os 28 escudos. Podia haver mais grupos, mais times e mais combate entre eles. Mas, caso o clube saísse derrotado, saberia que pode tentar de novo no ano que vem. Sempre na luta pelo sonho da primeira divisão. Não no abismo que é a terceira. O mínimo dos mínimos seria a última seção de clubes ter direito a umas três vagas na divisória acima. Um pódio de contemplados pelo trabalho de tão poucos recursos disponíveis.
Da minha visão, é isso. Boa sorte aos clubes, com suas contratações e fundos para viagens apertados. Mais apertado ainda estará o coração dos verdadeiros hinchas nessa árdua missão. Somente um peleador clube passa da terceira para a divisão de acesso. Somente um passa da divisão de acesso para primeira. Há, sim, muita coisa errada. Mas mais errado seria abandonar uma das razões de viver quando ela está no meio do temporal.
O futebol do interior sempre deve viver.
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FOTOS: EDIANE OLIVEIRA |
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