Man on the Moon é uma canção da banda norte-americana R.E.M., presente na disponibilidade dos mais diversos meios, de fitas a cds e ultimamente na internet e por que não pen drives, desde 1992. Sou posterior a ela. A música inaugura o disco-coletânea com as melhores da banda de três letras, sigla para Rapid Eye Movement (Rápido Movimento dos Olhos). Poético, não?
Essa música me lembrou a menina da fronteira da qual todos gostávamos no ensino médio. Todos, isto é, o resumido grupo de meus amigos próximos, dos quais hoje um está praticamente casado na cidade, um apareceu disfarçado dia desses por esses textos e outro é acrobata no circo mais reconhecido do mundo. Adianto que nenhum teve sucesso com a fêmea em questão.
E por que Man on the Moon lembra a moça, levava vocês ao mundo da lua? Não exatamente. Simplesmente um post meu na internet em que ela curtiu a dita cuja música. Ainda trocamos alguns likes políticos mas sem a pendência de uma conversa. Acredito que ela hoje esteja quase casada e em São Paulo. Isto mesmo, dor de corno maior ainda é adquirir tal condição para paulista. Mas quem sabe voltou à cidade? Algo me indicou isso por esses dias. Confusos dias pandêmicos, entendam. Vida confusa como a América Central, etc.
Entreguei várias pistas no texto que eu colocaria adiante numa organização mais organizada. Mas é que continuo ouvindo o disco das melhores do Movimento Rápido dos Olhos. Losing my Religion, sucesso que o DJ Rui Jordão tocava nas noites de Programa Replay na Rádio Cultura de Pelotas invade meus instintos. E conta o negro velho que essa música era presença constante nas festas pelas quais assumia a trilha sonora. "O pessoal gostava de colocar outras coisas, mas eu mandava rock também, não tinha ruim", garantia meu amigo de companhia esportiva nos debates semanais, muitas vezes transformado em mim de monólogo.
Voltando à fêmea-figura-chave desse texto (obrigado Jordão pela participação, diferente de Miguel na música histórica, atravessamos o (rio) Jordão, vejam só), voltando a ela, creio que a principal história de nosso envolvimento foi quando ela tentava vender ingressos para sua festa de formatura. Na verdade vendia ingressos para uma festa, erroneamente denominada churrasco, que arrecadaria cash, money, grana para a futura formatura de final de ano. Se não me engano ela era ano mais nova e se formaria só no ano seguinte. Organização de escola elevada, top 20 do estado e 100 nacional, se não me engano. Não confiem, muito posso me enganar, mas entendam que era um colégio de primeiro mundo.
E nós, voluntariado chinelão de saída do Centro rumo às Três Vendas para comprar os ingressos da moça. Fomos retardadamente a pé em um calor insuportável, recordo que uma das primeiras vezes em que precisei tirar a camiseta na rua tamanho o sol escaldante. Utilizei-a para proteger a superfície da fronte e aliviar a queimadura inerente aos cabelos. Nosso ginasta também adotou essa medida, com um físico esbelto muito mais atlético, evidentemente. Os demais nos acompanhavam em um grupo com quatro pessoas. Falávamos das mais diversas bobajadas nerds e conhecimentos por qual caminho deveríamos seguir para chegar em tempo recorde nessa jornada imprudente. Nos encontraríamos em ponto médio entre ambas as partes (mentira, quilômetros mais perto delas do que de nós).
Sim, educação fazer as damas caminharem menos nesse período em que ninguém ali sequer tinha idade para a carteira habilitadora ao trânsito. Exceção era o alto alemão de São Lourenço que dirigia sem carteira, mas aqui não iremos dedurá-lo. Educação, educação, please, monsieur. d'accord, mon ami. s'il te plait, para quem ficou curioso de como é 'por favor' en Français.
Caminhamos naquela lua braba do meio-dia em direção ao ponto de encontro e, quando telefonados, que algum dos debilóides possuía o contato, descobrimos que elas já haviam encerrado o almoço e regressado à escola que ficava ainda milha adiante. Diabos, seguimos porque queríamos chegar lá, embora já não disfarçássemos a irritação com a enrolação das ditas criaturas. Ao que estávamos informados (embora muito mal informados!), a soma de garotas disponíveis nessa compra de ingressos se dava em duas: ela e + uma amiga. Ok. Éramos quatro. Apesar das conversas variantes, no fundo todos devíamos imaginar quem ali tinha chance com as preciosidades. O ginasta, ano mais velho, era nossa aposta sigilosa, embora o mais alto também levasse algum currículo consigo. O hoje quase casado e eu gostávamos apenas de esticar as pernas em tardes escaldantes. Ééé, vai vendo.
Quando chegamos ao destino da escola chique, estava se encerrando o intervalo deles entre as aulas matinais e vespertinas, também conhecido como horário para almoço. Elas almoçadas, nós completamente suados e desconfigurados da boa aparência. Ao chegarmos, reparamos que a tal amiga não era de nosso total agrado, que teu Deus nos perdoe. Meio sem jeito e, embora cada um quisesse falar e expressar suas mais singelas emoções peito pra fora, estávamos quase mudos, talvez do cansaço somado à mórbida timidez de cada um. Efetuamos a compra em tempo recorde (ademais que o recorde não viria na tortuosa caminhada, ao menos algo para o guiness book faceirar-se).
(será que as capas do Guinness Book já utilizaram todas as cores existentes ou a humanidade segue a inventar colorações para compor esse modo chamativo de ilustrar as coisas curiosas?)
Cada um com seu bilhete premiado, só faltava um dos abobados deixar o vento levar a entrada até a boca de algum boeiro e aumentar o drama dos gaúchos que saíram sem noção a pé pelas ruas da cidade. Mas todos os bolsos estavam impecavelmente costurados e ninguém mosqueou a esse nível. Mal terminamos a compra e elas precisavam entrar para as aulas da tarde. Rigorosa que era a escola, tomariam uma senhora mijada em caso de atrasos, ainda mais se vissem nosso baixo nível ali, como se não bastasse, uniformizados com as cores da outra escola. Barbaridade.
Ainda deu tempo de tirarmos uma foto com um cão de rua que nos acompanhou nessa jornada. E digo, moças e rapazes, foi um dos mais fieis companheiros vistos por essas bandas. Não se importou de andar lado a lado com os guerreiros por dobras e dobras, quebradas, calçadas e meios de rua não movimentadas, patas sobre o concreto quente e nós com tão pouco a poder oferecer. Vira-latas, não por acaso, venceram a copa de enquetes do colega jornalista León Sanguiné. Melhor raça com sobras e ganas de vantagem. Nenhuma dúvida.
Pois bem, crianças e crianços, encerramos a lida naquela batalha árdua por quase merda nenhuma, não fosse o espírito puritano da aventura adolescente entre amigos. Sinto saudades desses tempos. Sinto falta desses tempos, melhor dizendo, na possibilidade de um dia quererem traduzir essa bagaça. Embora bagaça e outras gírias não sejam o mais indicado para futuras traduções. Sobre os amigos, é aquilo que recordo. O quase casado, o ginasta hoje em terras estrangeiras - preciso me atualizar como ele está em meio a esse caos mundial, me cobro a fazer isso - e o amigo que, se eu enviar mensageiro veloz o link certo, será o primeiro a relembrar essa epopeia de hormônios em alta na época e saudosismo latente nos cansados olhos da atualidade.
Como disse um dos músicos, o do violino do filme Titanic (1997) - que pela primeira vez assisti não digo esses dias porque foi exatamente ontem - "cavalheiros, foi um prazer tocar com os senhores". A menina-flor-campestre do Alegrete merece felicidades, o máximo que possa colher na lida dessa vida. Recordei dela pela última vez para remendar com o começo dessas linhas ao som de The Sidewinder Sleeps Tonite (A Cascavel Dorme Hoje à Noite), do mesmo disco referido do R.E.M. Agora a faixa cambiou para Stand, a de número 13. E é em um Rápido Movimento dos Olhos que encerramos aqui, para agradecermos sobretudo aos amigos que entrincheirados conosco encararam essa e outras. Ah, sim, há outras... Vontade de uma rapadura de amendoim com suco de limão...
Nenhum comentário:
Postar um comentário